Na minha última aparição aqui no Vida Cancheira, eu “prometi”
tocar no assunto Arena do Grêmio (sic) com a cabeça mais fria, após o jogo
contra o Lajeadense. Aconteceram 3 jogos em que sequer passei perto da cancha
do Humaitá (Caxias, Cruzeiro e Cerâmica, todos pelo nosso “charmoso Gauchão” [BRITO,
Paulo; 2013]), antes do meu retorno nesta quarta-feira. Uma noite que, em Condições
Normais de Temperatura e Pressão, seria uma noite de total
delírio copeiro, loucura, psicopatia e caos, uma promessa de reviver Las
Grandes Noches Coperas de 2007, quando derrubamos São Paulo e Santos na base do bafo na nuca no
meio do furdúncio. Não me importei em pagar um valor absurdamente abusivo por
um ingresso – creio que nunca mais irei pagar tão caro na vida para assistir a
um jogo de futebol. Copa é Copa, quem sabe, sabe.
O problema (ou solução, para resolver este texto) é que a cabeça não
esfriou. Ela quase explodiu na noite de ontem, com todo o contexto que se
apresentou no, me desculpem os enamorados daquela cancha, Teatro da OAS. Um
Teatro contaminado pelo fedor da censura, que o DOPS, digo, o BOE insiste em
atirar na nossa cara – quase que literalmente, o atirar. Acabaram com nosso
direito de fazer festa, acabou o nosso direito de não passar calor, acabou
nosso direito de manter-se em pé, acabou nosso direito de beber Coca-Cola mais
gelada do que a lata nos permite, acabou nosso direito de fumar um Marlborão,
porque todo gremista é um marginal, um filho da puta e isto não vai ficar
assim, porque você vai matar um torcedor rival com uma pedra de gelo, porque o
estádio (sic) de futebol é um ambiente fechado e sua fumaça vai intoxicar de
morte o seu coleguinha do lado, porque você vai perfurar o crânio do goleiro
adversário com o PVC da bandeirola ou matar um brigadiano com um murgaço,
porque não se deve mais falar palavrão, xingar o juiz, o adversário, seu
goleiro, seu técnico, a avó do Badanha, nem sequer pensar em xingar a si
próprio, por ter sido um imbecil completo de deixar isto acontecer e, pior,
abrir as pernas para tudo isto, “consumindo” o futebol moderno e sendo
conivente com toda esta palhaçada.
A Brigada Militar abusa da sua autoridade, a direção do
Grêmio abusa do bom-mocismo, isto reflete nas arquibancadas, reflete na cabeça
dos jogadores dentro de campo e refletirá, finalmente, que não ganharemos a
Copa. O nosso time é uma seleção, um timaço de verdade, melhor que o da época
da ISL, quando uma grana absurda foi investida no clube (daquele jeito, é
verdade, mas havia muito dinheiro). Só que, todos sabemos, não se ganha uma
Copa só com um time forte. Times medíocres já foram muito longe na Copa graças à
sinergia entre todos os envolvidos: os 11 dentro de campo e os 15, 20 ou 50 mil
fora dele (o Grêmio de 2007 que o diga). Eu não quero um estádio lotado, desde
os tempos de Olímpico eu nunca quis. Sempre preferi que tivéssemos 20 mil
ensandecidos, do que 50 mil para assistir a uma peça de teatro, ou a uma sessão
de horário nobre no cinema. Aliás, teatro e cinema são alternativas muito mais
baratas em relação aos jogos no Teatro da OAS, aviso desde já. Ontem sentei em
uma poltrona que nem em viagens aéreas eu havia sentado. Pergunte-me se era
isto que eu queria? É o óbvio ululante de quatro Libertadores nas paletas que
não. Como eu disse acima, eu quero loucura, eu quero alento, eu quero um clima
de Copa de verdade, do jeito que eu cresci vendo os estrangeiros fazendo e
amadureci participando, uma vez que nossos clubes aprenderam que criar um “clima
de Copa” não era feio e não fazia mal. Hoje é mais que feio. É criminoso. Dá
cadeia.
Admito que o Teatro seja espetacular. Espetacular para quem
vai assistir ao show do Roberto Carlos no dia 20, por exemplo. Não é aceitável
nem para quem vai a um show de rock’n’roll, como foi especulado para o evento
de inauguração do recinto, em dezembro passado, até porque a nossa forma de
torcer vai muito mais de encontro ao rock’n’roll do que ao samba, lento, cadenciado,
e por vezes mais amargo que o recomendável. Que ao menos haja um espaço para
torcer do modo rock’n’roll, do modo copeiro, que haja um espaço para intimidar
o adversário, que incite o estádio a se transformar em um caldeirão, em um
inferno para quem venha nos enfrentar. Falo hoje do Grêmio, amanhã alguém vai
falar o mesmo do Inter e seu Beira-Rio em avançado processo de “modernização”. Podem
anotar. Se os demais estádios “modernizados” do Brasil seguirem esse mesmo padrão,
o que acredito que acontecerá, adeus futebol brasileiro.
Finalizo voltando a falar do Grêmio, porque o que aconteceu
ontem – está exposto, não vou ficar repetindo o que todo mundo já sabe, mesmo
sem ter visto – me deixou extremamente desgostoso, triste, de verdade. Estão
acabando com o maior patrimônio que o Grêmio tem, que é sua torcida, estão
fazendo com que ela se volte contra a instituição, contra a camisa que
aprenderam a amar acima de muitas coisas que seriam mais importantes para
pessoas normais, mas, para nós, que somos torcedores, não são. Já nos tiraram
nosso estádio, tiraram nossa tradição de time copeiro e vencedor, nos dando em
troca um time que, em que pese sua qualidade, é de um bunda-molismo que
irritaria até Dalai Lama, comandado por um jóquei de pônei, que ganhou um
cavalo sem freio e não sabe o que fazer. Agora o Grêmio está fazendo com que
sua gente se afaste, não diretamente, mas dando o aval para tudo isto que foi
relatado aqui. O Grêmio que eu cresci aprendendo a amar está em estado terminal,
e o pior ainda está por vir. Juro que vou tentar não ser um dos ratos a
pular da barca.
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