segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Decepção programada

Henrique Almeida e Edílson observam Robinho comemorando, sem saber o que fazer. Àquela altura do campeonato, nada mais poderia ser feito... (Foto: Reprodução / Folhapress)
Poucas situações na vida podem ser tão paradoxais quanto a saída de um estádio de futebol. É um momento de absoluta comunhão de expectativas frustradas ou de júbilo embriagante que pode influenciar nas próximas horas, semanas ou vidas, dependendo do peso da entrega no placar final. Poucas coisas no futebol são piores que sofrer um gol nos minutos finais. Aí não importa o contexto, o desgraçamento mental e a sensação de que aquilo era uma coisa totalmente evitável tomam conta dos nossos corações e nos fazem ter uma ressaca moral aparentemente incurável.

Este poético e rebuscado prólogo só serve para expressar o quanto está sendo difícil de lidar com o empate que o Grêmio sofreu ontem para o Atlético-MG, na Arena. O Tricolor foi amplamente superior, não correu nenhum risco durante o jogo e mesmo assim não saiu com a vitória, prova cabal que a justiça acontece apenas nos tribunais, e olhe lá. O 1 a 1 mantém o time gremista na 6ª colocação no Brasileirão, com 36 pontos, 7 a menos que o líder Palmeiras, ainda que tenha um jogo a menos em relação aos demais times da parte de cima da tabela. Este jogo a menos, contra o Botafogo, será o próximo compromisso do Grêmio, no próximo domingo, às 16h.

Quando a formação inicial do Grêmio foi anunciada, não vi com bons olhos a opção pelos três volantes, mesmo que nenhum deles seja propriamente um quebrador de bola, muito pelo contrário. Fiquei apreensivo, pois jogando contra um adversário que claramente iria jogar mais postado, o time poderia perder poder de fogo. No entanto, desde o primeiro minuto o Grêmio amassou, indo para cima do Atlético-MG e povoando o campo adversário, como o caráter decisivo do jogo exigia. Ainda assim, mesmo jogando inteiro no território rival, o time gremista tinha pouquíssima profundidade, com Luan e Bolaños jogando abertos e sem chegar perto da área defendida pelo campeão olímpico Uílson.

A volta do intervalo foi de manutenção do estilo, e deu certo. Logo no início do 2º tempo Luan contou com a sorte, e viu um chute despretensioso da entrada da área explodir em Ronaldo e encobrir Uílson. O Grêmio continuou dominando o jogo, tecnica e territorialmente, mas sem criar mais chances claras de gol. Aqui cabe um parêntese: em que pese ter marcado o gol da vitória contra o Atlético-PR na última quarta-feira, pela Copa do Brasil, ontem foi mais uma jornada infeliz do equatoriano Miller Bolaños. O camisa 23 gremista insiste em não justificar o enorme investimento feito em seu futebol, seja pelas decisões erradas ou posicionamento equivocado dentro de campo, seja pela infinidade de gols perdidos. Haja arroz para pagar esse prejuízo.

O técnico Roger Machado também parece ter perdido a paciência com o outrora “Killer” e voltou a apostar no fraco Henrique Almeida, após uma sequência de jogadas malfadadas do ex-astro do Emelec. E após uma troca ainda mais malfeita do treinador gremista, eu perdi a paciência com ele. A entrada de Ramiro na vaga de Douglas, deixando o time com inacreditáveis 4 volantes em campo, era o prelúdio de uma tragédia que não tardou a acontecer. Mais precisamente 5 minutos após a mudança, aos 41’ do 2º tempo, Robinho, que sempre gostou de marcar contra o Grêmio, aproveitou uma paciente troca de passes do Galo e acabou com a festa gremista. Aí é o momento em que eu deixo de saber o que pensar e só sei o que sentir – e como xingar.


Em primeiro lugar, como é que ninguém tem a capacidade de matar a troca de passes de um adversário que está em busca do resultado? Como é que um time com 4 volantes fica apenas observando o toque de bola rival, com jogadores trotando no campo defensivo? Por que o treinador não estava à beira do gramado esbravejando para não deixarem o adversário jogar? Por que essa insistência em um futebol bonito que não permite jogar sujo para garantir um resultado? A vitória era vital na luta pelo título brasileiro e foi jogada no lixo, sem remorso algum e com a complacência de parte da torcida que aplaudiu o time ao final do jogo. Honestamente, prefiro um time que jogue mal, passe aperto o tempo todo, mas que obtenha os resultados. Nessa altura do campeonato, o mais importante são os 3 pontos, podendo ser desprezado o aspecto qualitativo, sem dor alguma na consciência.

Se eu pudesse indicar uma leitura para Roger Machado, certamente seria “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.  Talvez ele aprenda um pouco sobre ambição e sobre as coisas a serem feitas para alcançar determinado objetivo. Vejo um perfil conformista no comandante gremista e os jogadores absorvem essas pequenas coisas para seus subconscientes, o que impede um centromédio de enfiar a pata no seu adversário para minimizar qualquer chance de sofrer um gol. O que quero dizer é que, para vencer, às vezes é necessário transgredir e ignorar as regras, mesmo que isso seja antiético, imoral, chame como quiser. No aspecto técnico Roger é excelente, encontrou uma maneira de jogar que se adéqua ao elenco à disposição, mas que não tem aquele algo a mais que caracteriza um time vencedor.

O Brasileirão não está perdido para o Grêmio, ainda faltam 17 jogos, e o Tricolor também arrancou muito bem na Copa do Brasil. Falta mesmo é convencer o torcedor que nos momentos cruciais o time não vai travar, deixando de fazer um mísero golzinho contra um adversário da zona de rebaixamento, ou levando um gol qualificado que o eliminará de uma competição eliminatória. Hoje, a impressão é que um roteiro assim já está pré-escrito, pronto para ser colocado em cena. O Grêmio precisa mesmo é deixar de ser esse anti-clímax em forma de clube de futebol, que sempre dá um jeito de decepcionar seu torcedor de uma forma diferente – e cada vez mais cruel.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Equilíbrio inglório

O Cruzeiro se recuperou um pouco no Brasileirão, mas seus torcedores andaram protestando forte contra a situação delicada que o clube ainda vive (Foto: Reprodução / UOL)
O Brasileirão sempre foi um campeonato dos mais esquisitos. Na nova fórmula de pontos corridos, vigente desde 2003, as coisas passaram a ter um pouco mais de lógica e foi composta uma hierarquia de clubes ainda maior que a existente nas décadas anteriores. A pirâmide do futebol brasileiro está bem dividida, com castas bem caracterizadas em seus respectivos escalões, mas nada impede que tenhamos surpresas nos dois extremos das tabelas, não importando a divisão. Este ano a Série A vem mostrando um equilíbrio que não se via a algumas temporadas, com brigas intensas pelas primeiras colocações e na luta contra o rebaixamento.

Na parte de cima da tabela, apenas 5 pontos separam o líder Palmeiras do 6º colocado Grêmio, que ainda tem um jogo a menos em relação aos adversários. Existe um pelotão à espreita, que fecha a primeira parte da tabela, e está a 10 pontos do ponteiro do campeonato. A briga pelas 4 vagas que o Brasileirão oferece para a Libertadores da América do ano que vem deve ser ferrenha até as rodadas finais, pois nenhuma equipe dispara, devido à incrível irregularidade que é marca registrada nesta temporada do futebol brasileiro. Quando parece que algum time pode disparar, aparece uma Ponte Preta para visitar o primeiro colocado e segurá-lo.

O que surpreende, na verdade, é a quantidade de times que estão credenciados a lutar por posições no final da tabela. Ou melhor, a quantidade de times jogando um futebol de nível débil, digno de divisões inferiores do futebol brasileiro. Aviso que assistir a jogos de times como América-MG, Coritiba, Figueirense e Santa Cruz pode causar dependência, te levar a drogas mais pesadas, como jogos do CRB ou do Brasil de Pelotas, e a reabilitação é muito, mas muito difícil. Só que o mais impressionante, e de efeitos devastadores, é ver times como Cruzeiro, Internacional e São Paulo com espírito e futebol de times rebaixáveis. Por sinal, os clubes citados jamais foram rebaixados, o que torna a situação ainda mais assustadora.



O América-MG tem 5 dos 6 pregos fincados em seu caixão. Com 13 pontos em 21 jogos, não tem mais volta, nem por um milagre. Ou seja, sobram 3 vagas para 9 clubes separados por 8 pontos. O que essa montoeira de números quer dizer? Simples, que vai ter muito choro e ranger de dentes nas 17 rodadas que teremos pela frente. Tenho para mim que até a 30ª rodada as coisas estarão mais claras, com definições nas partes de cima e de baixo da tabela. Aqui vai um tranquilizante aos torcedores dos clubes supracitados: nenhum deles vai conhecer os porões da Segunda Divisão, ao menos não em 2017. Por pior que eles possam estar agora, todos tem capacidade de recuperação, sobretudo gaúchos e mineiros, de situação mais delicada.

No entanto, o recado está dado: é hora de acordar! Muitos clubes grandes caíram no conto do “clube grande não cai” e “a Série B não é o nosso lugar”, e acordaram fora da elite do futebol brasileiro. Vejo muita soberba dentro dos clubes, de achar que as coisas se resolverão por mágica, ou pelo peso da camisa. Internacional e Cruzeiro estão seguindo à risca a famosa “Cartilha do Rebaixamento”, com trocas de treinadores e decisões gerenciais no mínimo discutíveis. O São Paulo vem jogando pouco faz tempo e está em queda livre no campeonato. Times mais fracos, como Coritiba, Figueirense, Botafogo e Vitória prometem lutar até o fim, pois são conscientes de suas limitações e de suas realidades.

As próximas rodadas serão de um nível emocional elevadíssimo. Todos os times nessa faixa da tabela enfrentam suas próprias dificuldades e é difícil fazer uma aposta. Apesar dos pesares, o Cruzeiro está em franca ascensão e venceu um confronto direto contra o Figueirense neste final de semana. Por outro lado, o Internacional está a inacreditáveis 13 jogos sem vencer e vai encarar duas pedreiras na sequência – o Sport, fora de casa, em confronto direto, e o Santos, no Beira-Rio – e precisa urgentemente voltar a vencer. Vitória, Santa Cruz e Figueirense, hoje, parecem ser os favoritos à queda. Mas, em duas rodadas, tudo pode mudar, sobretudo nessa loucura que é o Brasileirão 2016.

domingo, 14 de agosto de 2016

Enfrentando o medo da história

Jogadores do Grêmio agradecem o apoio da torcida em um domingo histórico na Arena. Mas o que os torcedores querem mesmo é um motivo para ser grato de verdade aos jogadores (Foto: Rodrigo Rodrigues / Grêmio FBPA)
Um jogo de futebol vai muito além do trivial que acontece dentro das quatro linhas, com 22 pessoas correndo atrás de uma bola com o objetivo de colocá-la dentro de um retângulo de aproximadamente 2 metros de altura e 7 metros de largura. A nível profissional existe um nível de paixão quase que insana envolvido nesse processo, que não dura apenas 90 minutos, mas faz parte do cotidiano de milhões e milhões de pessoas. As histórias contadas, que geram inúmeras músicas, livros e filmes, são o principal ingrediente desse contexto que permeia as imaginações e a realidade, numa separação tão tênue que muitas vezes faz com que elas se misturem sem aviso. A realidade, inclusive, pode ser um fardo praticamente insuportável a se carregar, até mesmo pelos que deveriam ser profissionais – sim, os jogadores.

O Grêmio está imerso em um momento histórico muito denso dos seus quase 113 anos de existência. Há um processo de adaptação a uma nova casa, a uma nova realidade que se fez inadiável, já que o velho Olímpico do bairro da Azenha não suportava mais as necessidades do clube. Há um período sem grandes conquistas que é angustiante para o torcedor, ainda que o Tricolor, enquanto instituição, tenha ficado à beira de um precipício sem volta a pouco mais de uma década – mas vai explicar isso para o torcedor, esse ser visceral que perde totalmente seu discernimento quando tocam no distintivo do seu clube do coração. Diante disto, surgem os pequenos tabus, coisas simples e que incomodam tanto quanto essas questões transicionais mais pesadas.

O Tricolor manda seus jogos em uma moderna arena cravada na periferia de Porto Alegre a pouco mais de três anos. Confesso minha pouca afeição ao local, pela minha relação muito próxima ao Monumental de tantas glórias, mas é necessário encarar a realidade e seguir a vida. Criou-se uma aura de que o Grêmio e sua torcida ainda não tinham permitido ao novo estádio que ele tivesse alma, como se um amontoado de concreto pudesse ter vida própria – sempre acreditei que o Olímpico tinha. Sobretudo nos jogos decisivos, ou quando uma multidão resolvia ir apoiar o time, esse sentimento se fortalecia, sobrepunha às barreiras das quatro linhas, e fazia com que os jogadores travassem ou que houvesse algo em potencial para dar errado.


Muitas vezes deu errado, este blog é testemunha de algumas dessas ocasiões, mas finalmente ocorreu o aparentemente definitivo exorcismo desse fantasma que frequentava os becos e praças desertas da Vila Farrapos. No ensolarado e quente final de manhã deste domingo, o Grêmio recebeu o Corinthians, no primeiro de três duelos vitais para que o sonho do título brasileiro deste ano não virasse um pesadelo, e o churrasco do dia dos pais ficou ainda mais saboroso com a vitória categórica por 3 a 0 contra os atuais campeões nacionais. A Arena recebeu o maior público de sua curta história em jogos oficiais, pouco mais de 50 mil pessoas, que viram uma atuação correta de um time desfalcado de seus dois melhores jogadores, mas que soube superar suas limitações e se aproveitar das fraquezas corintianas.

Foi um jogo sem redenções épicas, nem grandes histórias para contar. O Grêmio tomou a iniciativa do jogo, empurrado pela multidão que foi lhe apoiar, e sufocou o Corinthians até abrir o placar, em um golaço de Pedro Rocha. O time paulista teve enormes dificuldades na contenção do jogo, estando organizado em um 4-1-4-1 que não tinha compactação, muito menos a necessária voluntariedade dos jogadores da terceira linha nos raros momentos sem a posse da bola, situação personificada no paraguaio Romero, de péssima atuação. Muitas vezes os donos da casa alugaram o campo para os visitantes, atraindo as linhas rivais para o seu campo, visando ao contra-ataque. Deu certo, o Grêmio desarmou muito mais, utilizou com alta eficiência a velocidade de Pedro Rocha, Everton e Bolaños, e matou o jogo no início da etapa complementar.

Duas coisas são importantes ressaltar. Em primeiro lugar, novamente a defesa gremista protagonizou momentos de horror na bola aérea, sempre nos 15’ finais de cada tempo. Não fosse a péssima pontaria dos homens de frente do Corinthians, a atuação iluminada de Marcelo Grohe e uma boa dose de sorte, o resultado poderia ter sido totalmente diferente. O posicionamento da zaga tricolor ainda vai me fazer voltar a ter medo de altura, que troço impressionante. Outra coisa... Sigo com minhas restrições ao técnico Roger Machado, sua visão de jogo (a falta dela, no caso) e as limitações para alterar o panorama de um jogo complicado. Mas, hoje, pelo menos, nosso treinador não atrapalhou, mexeu certinho, colocando as peças certas, nos momentos certos. Tudo bem que as circunstâncias ajudaram, mas a dupla Kaio e Ramiro não ficou devendo em nada para Jaílson e Maicon, além da entrada de Guilherme, não tão bem como outrora, mas em nível aceitável.

O primeiro desafio foi superado. O Grêmio voltou para o grupo dos 4 melhores do campeonato, ainda com um jogo por fazer – contra o Botafogo, no dia 4 de setembro. Na sequência, o Tricolor irá enfrentar o Flamengo, na manhã do próximo domingo, em Brasília. É mais um dos chamados “jogos de 6 pontos”, e é importante pontuar, uma vez que os demais rivais na briga pelo topo da tabela terão todos adversários acessíveis. Depois, o oponente é o Atlético-MG, em Porto Alegre, uma pedreira tão grande quanto Corinthians e Flamengo. A impressão é de que o time parece moldado ao enfrentamento de igual para igual, contra times da mesma grandeza, o que traz boas perspectivas para esta série de carnes de pescoço. Volta à tona aquela coisa de saber porque ganha e porque perde, perder o medo de ser feliz e de mudar a história. A oportunidade está batendo na porta novamente.

domingo, 7 de agosto de 2016

Casa da luz vermelha

A paciência da torcida do Inter acabou de vez. Demonstrar isso é uma das principais atitudes para mudar o atual cenário do clube (Foto: Rafael Divério / Agência RBS)
A história está aí para que aprendamos com ela. Olhar para o lado muitas vezes é uma necessidade, mas olhar para trás é ainda mais importante. Os erros dos outros no passado podem nos mostrar muitas coisas para que mudemos nossa realidade no presente. E o Internacional parece ignorar estes detalhes, se afundando cada vez mais no Brasileirão. O Colorado alcançou a assustadora marca de 11 jogos sem vencer, sem grandes indícios de que a situação vá melhorar tão cedo. O empate deste domingo contra o Fluminense foi a quinta partida consecutiva sem vitória no Beira-Rio. Ao menos a sequência histórica de quatro derrotas seguidas – a maior da história do clube como mandante – foi quebrada.


O time que começou muito bem o campeonato, chegando a liderar nas primeiras rodadas, teve uma queda vertiginosa de rendimento. A última vitória, contra o Atlético-MG, colocou o time colorado como líder na rodada 8. A atuação contra o Galo foi exemplar, de certa forma enchendo os olhos dos torcedores, que acreditavam em uma grande campanha. A equipe tinha uma certa consistência defensiva, utilizando a velocidade dos seus homens de frente para garantir os resultados. Vinha dando certo, enquanto os adversários não eram os melhores, ou não estavam em seus melhores momentos, e a parte ofensiva vinha em boa fase. As vitórias fora de casa contra São Paulo e Santos foram exemplos claros disto.

O turning point negativo do Inter, sem sombra de dúvida, foi a bizarra derrota para o Botafogo, dentro do Beira-Rio. As atuações contra Figueirense e Coritiba já haviam sido abaixo da média, mas não preocupavam. Mas, perder para o Botafogo, da forma como o jogo se desenhou, foi acintoso, ofensivo ao torcedor que estava nas arquibancadas. Dali em diante parece que o grupo perdeu totalmente a confiança, tanto no trabalho do até então técnico Argel Fucks, quanto em si mesmo, pois nada mais deu certo para o Colorado a partir desse ponto. Argel duraria mais três jogos, as derrotas por 1 a 0 para Flamengo, Grêmio e Santa Cruz, na sequência, até ser demitido.

A resposta da direção colorada foi tentar blindar o elenco colocando um ídolo no comando, com o retorno de Paulo Roberto Falcão, após 5 anos longe da direção técnica do time. Muitos louvaram, mas qualquer um que entenda um pouco de futebol sabe que a qualidade de Falcão como treinador é inversamente proporcional às suas capacidades como comentarista. Uma coisa é tu analisares uma partida de futebol com todos os recursos que uma transmissão “padrão Globo” te proporciona. Outra, totalmente diferente, é estar à beira do gramado, precisando muitas vezes mudar a história de um jogo, sem contar as questões de gestão do elenco, o que é ainda mais difícil que preparar um planejamento tático e técnico.

Outro ponto importante, este que destaca ainda mais a falência de ideias do comando do futebol do clube, foram as contratações visando o segundo semestre. Tudo bem que o meia Seijas é um jogador de seleção, ainda que da Venezuela, e vinha mostrando muitos bons serviços no Santa Fe, mas em hipótese alguma poderia chegar como salvação da pátria. Assim como Nico López, de boa Libertadores pelo Nacional uruguaio, mas que nunca se firmou em lugar nenhum, além de ter flopado na Itália e na Espanha. Até aí tudo bem, muito dessa empolgação vinha da torcida, e é justificável, visto o número de estrangeiros que deram certo no Inter nos últimos anos. Mas, como explicar a contratação de Ariel Nahuelpán?

O Inter termina o primeiro turno com pontuação de time rebaixável, e isso é assustador para a torcida. É impossível não comparar a situação colorada com o Grêmio, no famigerado ano de 2004. O Tricolor ficou 10 partidas sem vencer, em sua pior série, e acabou na lanterna do Brasileirão, com a pior campanha da história da competição até então. É necessário que o Inter olhe para o retrospecto, não só do arquirrival, como também dos demais clubes grandes rebaixados em anos anteriores. Desdenhar das possibilidades de queda é uma irresponsabilidade. É necessário entender a delicadeza do momento e ter a sensibilidade de tratá-lo com seriedade, para que o torcedor não sofra as consequências.

O material humano disponível não é o ideal para um clube do tamanho do Internacional, mas também é bom o suficiente para que o clube se mantenha na elite do futebol brasileiro. Penso que Falcão não seja o treinador mais indicado para o momento do clube. Infelizmente o Inter precisa de um “bombeiro”, que faça o time conquistar pontos necessários para que a situação se acalme e a confiança retorne ao grupo de jogadores. Se desfazer de atletas descomprometidos também é importantíssimo, para fechar o elenco e alcançar os objetivos. Já que eles não os mais gloriosos, que sejam para evitar uma mancha irreversível na história do clube.

sábado, 6 de agosto de 2016

99% candidato, mas aquele 1%...

A atuação de Wallace Oliveira foi tão boa quanto a expressão dele tentando se livrar da bola. Ainda bem que é jovem, e pode repensar a carreira (Foto: Rodrigo Rodrigues / Grêmio FBPA)
O Grêmio conseguiu se superar. O cantado e decantado fiasco no Independência no último domingo parecia ter sido o pior dos mundos nesse momento do Brasileirão, no qual o Tricolor ainda luta pelo título. Mas a surpreendente quente quinta-feira de agosto tinha mais uma armadilha preparada para as quase 18 mil pessoas que se prestaram a estar na Arena, no péssimo horário das 19h30. O time de Roger Machado novamente parou em um adversário da parte de baixo da tabela e perdeu mais uma chance de assumir a liderança do campeonato.


Pelo andar da carruagem, outra chance dessas não aparecerá tão cedo. A sequência gremista no Brasileirão, com o adiamento do confronto contra o Botafogo, pela última rodada do turno, é terrível. Os três jogos do começo do returno irão determinar qual o real objetivo do Grêmio no campeonato – a saber, o Tricolor receberá Corinthians e Atlético-MG e visitará o Flamengo, todos eles candidatos ao título. No meio desta sequência, haverá o jogo de ida pelas oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Atlético-PR, em Curitiba.

O empate contra o Santa Cruz foi decepcionante. Esperava-se outra postura do time após o tropeço contra o América-MG, tanto no aspecto psicológico, quanto no aspecto técnico. A empáfia da equipe novamente irritou o torcedor, que não poupou o time de vaias após o término da partida. Faltou profundidade ao time gremista, as alternativas propostas pelo treinador não surtiram efeito e o zero não saiu do placar. A propósito, se alguém esteve mais perto do gol, foi o time pernambucano, que teve atuação exemplar.

Houve inúmeros fracassos individuais. Negueba, de atuação promissora contra o São Paulo, ficou devendo, com direito a gol perdido sem goleiro, em rebote de falta batida por Miller Bolaños. O equatoriano também foi abaixo da média, assim como os outros componentes do sistema ofensivo, Douglas e Pedro Rocha – este último, constrangedor. A dupla Oliveira de laterais, Marcelo e Wallace, errou tudo que tentou. Ainda vou descobrir quem foi o empresário que conseguiu levar o lateral-direito para o Chelsea...

Mas o pior de todos foi Roger Machado. Internamente e em redes sociais eu até faço algumas críticas ao treinador gremista, mas aqui no blog eu vinha aprofundando mais as questões de limitações do time e pegando leve com o dono da casamata. Infelizmente, a paciência acabou. Mais uma vez as trocas não foram criativas, não alteraram o panorama técnico e tático da equipe, muito menos o panorama do jogo. Foram infinitos passes errados e espaços generosos para os contra-ataques do Tricolor do Arruda, muito mal aproveitados, aliás.

Até é elogiável a escolha pelo ótimo Guilherme Vieira, mas era praticamente impossível ser pior que fora Pedro Rocha. A entrada de Henrique Almeida é inexplicável. Quer dizer... Inexplicável é esse cara vestir a camisa do Grêmio. Ao que parece, não foi bem o Internacional quem tomou um “chapéu” nesse caso. No entanto, a pior de todas foi a entrada de Lincoln na vaga de Douglas, para atuar na ponta-direita (?). Em resumo: desorganização permanente e recorrente, sempre nos momentos em que o time mais precisa botar a bola no chão e jogar.

Quando o time está ganhando jogos complicados, colocam-se volantes para segurar o placar, ao invés de seguir com o mesmo padrão de jogo. Quando o time precisa de um gol, atacantes são empilhados, perde-se o meio de campo e a estrutura tática fica ainda mais vulnerável. Poucas foram as vezes que o roteiro proposto por Roger Machado deu certo. Enfim, penso que o técnico gremista precisa se reinventar, conhecer melhor as peças que tem, ou pelo menos demonstrar que as conhece, e utilizá-las da forma mais correta possível.


A campanha do time ainda é muito boa, vide a proximidade mantida para os líderes, mesmo com esse retrospecto recente de dois pontos contra dois dos piores clubes do Brasileirão. Depois da vitória contra a Ponte Preta, na rodada 6, falava que a equipe deveria manter uma regularidade, sobretudo jogando na Arena, onde deveria ser proibido perder pontos para equipes de tamanho inferior. O Grêmio conseguiu perder para o Vitória e empatar com o Santa Cruz, e isso é inadmissível.

A ilusão que eu tinha no início da competição se dissipou. Ainda que eu argumente favoravelmente ao time e suas possibilidades de sucesso no Brasileirão, o faço de cabeça fria, analisando a estrutura atual do time e dos adversários no campeonato. O Grêmio segue sendo candidato ao título brasileiro, mas entendo os torcedores que deixaram de acreditar. A equipe gremista vai ter que provar para seu povo que é possível seguir sonhando. E que a sequência que está esperando o Grêmio não faça a torcida acordar de vez desse sonho.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Essa tal meritocracia

Nem os gols de rebote e o bom humor nas redes sociais livraram Douglas das críticas após o jogo do último domingo (Foto: Reprodução) 
No início da noite deste domingo, o Grêmio teve uma chance daquelas reluzentes para ficar na cola dos líderes de um dos Brasileirões mais equilibrados dos últimos tempos. O duelo foi contra o América-MG, lanterna convicto e absoluto do campeonato, que tinha (até então) média de meio ponto por jogo. Era a oportunidade do Tricolor mostrar sua cara e entrar de vez na disputa pelo título brasileiro.

Não dá para dizer que o Grêmio não mostrou sua cara. Aquele velho retrato dos últimos anos, de sempre amarelar na hora H e entregar para times pequenos, entrou em campo no Independência e tomou conta do time. Como eu disse em determinada rede social, “o Grêmio é isso aí mesmo”, nunca perde a chance de fazer um fiasco. Sim, empatar com o América-MG, mesmo na casa do adversário, seja qual for o cenário, é inadmissível.

Obviamente a torcida entrou em ebulição após o jogo, imbuída de um espírito fatalista totalmente contagiante - mais contagiante que a falta de vontade do time em Belo Horizonte. Não entro na onda dos que pensam que o Grêmio não pode ser campeão por ter tropeçado no último colocado. Foram dois pontos desperdiçados, mas os mesmos dois pontos caso o adversário fosse o Corinthians, o Flamengo, o Cruzeiro ou o Santa Cruz.

Vamos para o outro lado da moeda. Muitos dizem que, para ser campeão neste formato de pontos corridos, é necessário atropelar os pequenos e trocar pontos com os grandes. Concordo. Só que muitas vezes esquecemos que o Brasileirão é o campeonato com mais armadilhas dentre as “grandes ligas”. O pequeno pode surpreender o grande a qualquer momento, sem sobreavisos, não há uma lógica, até porque se tem uma coisa que o futebol não é, é uma ciência exata.

O Grêmio foi irritante, isso é consenso absoluto entre os gremistas. Foi um time indolente, autossuficiente, que pensou que poderia ganhar quando bem entendesse, como bem entendesse. No final das contas acabou muito mais próximo da derrota do que da vitória. O que deve ficar como aprendizado é que o Tricolor tem que encarar todos os jogos como se fossem finais, mostrando intensidade, gana, vontade de vencer. Se não ganhar, tudo bem, faz parte do jogo.

Não vejo os problemas de Belo Horizonte passando pelo técnico Roger Machado, ainda que eu siga sendo um crítico contundente do trabalho do ex-lateral multi-campeão. O time que entrou em campo foi praticamente o mesmo que dominou amplamente o São Paulo no domingo anterior, sem alterações estruturais ou algo que o valha. Ou seja, o que causou o desastroso empate foi uma questão puramente anímica, que vem do psicológico dos atletas.

Outra questão importante, que eu pontuei em alguns grupos logo após o jogo: o Grêmio carece de um planejamento de jogo, coisa que até meu time de futsal na adolescência tinha. O tal planejamento condizia em manejar as formas de jogo de acordo com o adversário, para que as qualidades do nosso time batessem com os defeitos do rival, mesmo que para isso fosse necessária uma mudança profunda na fotografia do time. Não digo que tivemos o maior sucesso do mundo, mas isso é importante para superar as próprias limitações.

Mais que superar, conhecer as limitações. Saber porque ganha e saber porque perde. Estudar, não apenas o adversário, mas estudar a si próprio. Fazer com que o espírito seja o mesmo, não importa o tipo de enfrentamento. Não é um software alemão que irá proporcionar isso à estrutura de futebol de um clube. Afinal, essa estrutura é composta por pessoas, passíveis de erros e capazes de aprender, ao contrário das máquinas e aplicativos.

Dito isto, concluo que o Grêmio pode sim ganhar o Brasileirão 2016. O time tem qualidade e uma estrutura tática que não deve nada a nenhum dos outros 19 oponentes no certame. Espero que todos os envolvidos tenham aprendido e incorporem o espírito vencedor necessário para qualquer conquista, seja no futebol, seja na vida. Já passou da hora de largar esse medo de ser feliz e enveredar rumo às vitórias e aos títulos.

Antes do Esquecimento

  • Foram conhecidos os confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil. O Grêmio irá enfrentar o Atlético-PR, sendo o jogo de ida em Curitiba, e a volta na Arena. Os confrontos serão nos dias 24/08 e 21/09, e esse mês de intervalo será destinado aos jogos "quarta/domingo" pelo Brasileirão. Os outros gaúchos na competição, Internacional e Juventude, terão pela frente, respectivamente, Fortaleza e São Paulo.