domingo, 7 de dezembro de 2014

Ser copeiro ou não ser?

Um dos momentos mais espetaculares do Brasileirão 2014
(Foto: Charles Guerra / Agência RBS)
O que Internacional e Corinthians ganharam e perderam nos dois jogos deste último sábado, que encerraram suas participações no Campeonato Brasileiro 2014, todos sabemos. Mas o que representa, na prática, as presenças dos gaúchos na fase de grupos e dos paulistas na 1ª fase da Libertadores da América 2015? Até que ponto o mito de enfrentar argentinos e uruguaios poderá ser mais difícil para o Corinthians? É tão fácil assim o grupo do Internacional, como alguns setores da imprensa vem vendendo? Vamos aos fatos...

E depois de dois anos de ausência, o Inter volta no Grupo 4 da Libertadores, para tentar seu terceiro título em menos de 10 anos. Tenho lido e ouvido muitas coisas sobre este grupo, e o fato do Colorado ter escapado de San Lorenzo e São Paulo não se constitui necessariamente em uma vantagem. Vantagem mesmo, no meu ver, foi escapar de jogar a 1ª fase do torneio, podendo esticar um pouco mais a pré-temporada e azeitar o time.

O Grupo 4 contará com dois campeões nacionais (o 2, chamado "da Morte", terá apenas um), do Chile e Equador. O campeão chileno foi definido ontem, a tradicional equipe da Universidad de Chile, e o equatoriano será conhecido no próximo dia 21, na final que será disputada entre Emelec e o campeão do segundo semestre - Barcelona, Independiente del Valle e Liga de Quito seguem na briga, além dos próprios Eléctricos. Fecha a chave o vencedor de Monarcas Morelia e The Strongest - uma viagem ao México ou à altitude de La Paz.

Não será nada fácil, mesmo. Os clubes de Guayaquil são muito tradicionais, e jogar em Quito também tem o bônus da altitude. O Independiente causou muitos problemas ao San Lorenzo, atual campeão da América, que eliminando os argentinos ainda na fase de grupos. A Universidad de Chile dispensa apresentações, e uma viagem longa, tanto para a Bolívia, quanto para o México, é sempre uma dor de cabeça extra, principalmente para os brasileiros, com todos seus problemas relativos ao calendário.

Já o Corinthians terá que disputar a 1ª fase da Copa, conhecida aqui no Brasil como "pré-Libertadores", contra o melhor colombiano na contagem total dos pontos de 2014, que pode ser ou Santa Fe, ou Once Caldas, ambos bem conhecidos dos brasileiros. Passando por esse confronto, o Timão entra no Grupo 2, com o atual campeão, San Lorenzo, seu arquirrival São Paulo, e o chico, pero tradicional Danubio, surpreendente campeão uruguaio na temporada passada.

O problema para os paulistas, no meu ver, é o confronto da 1ª fase. Jogar na Colômbia é sempre um inferno - o Corinthians sabe bem como é, inclusive -, principalmente contra equipes mais tradicionais. E neste aspecto o Santa Fe seria um adversário mais complicado, apesar de o Once Caldas também jogar na altitude de Manizales. Esse duelo eliminatório afeta toda a logística do início de ano, encurtando a pré-temporada e obrigando o time a começar o ano já com um confronto decisivo.

A sequência me parece mais tranquila. Honestamente, não vejo em San Lorenzo e Danubio mais times que em Universidad de Chile e qualquer equatoriano que se classifique, por mais que jogar no Nuevo Gasómetro e no Centenario seja sempre carne de pescoço. O São Paulo é um adversário doméstico que, apesar de ser rival estadual, não costuma se dar muito bem contra seus compatriotas na Libertadores. Sem contar as viagens curtas para Buenos Aires e Montevidéu. Nesse aspecto o Corinthians tem uma vantagem interessante.

Seja como for, gaúchos e paulistas estarão na vitrine mais importante da América, e uma das mais importantes do mundo do futebol. E, como costumo dizer, "a Libertadores é um lugar onde é melhor estar, do que não estar". Quem espera facilidades no torneio mais charmoso do mundo, pode esperar sentado. A edição 2014 está aí para provar que não basta ser o melhor, tem que mirar e querer a Copa para poder tocá-la.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Crise provinciana sob diversos prismas

São tempos estranhos em Porto Alegre. O comportamento das pessoas está confuso, está havendo uma preocupante inversão de valores, e um dia vamos entender com claridade o porque disso tudo. Nos últimos dias tivemos acontecimentos que me motivaram a tirar a pena da gaveta, organizar as ideias e botá-las no papel, pois nem só de opiniões reprimidas vive o homem. E por mais que ninguém tenha pedido, não vejo nada demais em me posicionar frente a toda essa loucura pela qual estamos passando.

Enquanto isso, no Paço Municipal... até as galinhas estão mais
amparadas que nós (Foto: Adriana Franciosi/ZH)
Na madrugada do último sábado, estava eu navegando pela internet, quando li em um portal de notícias que um taxista havia sido assassinado na Zona Leste da capital gaúcha. Meu pai trabalha como taxista, à noite, e na mesma região. Pensem em um susto... Passado aquele primeiro impacto, descubro que também era um pai de família, honesto e trabalhador, quem havia perdido a vida enquanto tentava ganhar o pão. Se teve algum sinal dos bandidos, ou de algum suspeito? Óbvio que não.
Então, no dia seguinte, peguei uma carona com o velho, extremamente aliviado por estar ali, e não em um lugar muito pior naquele momento. Comentando sobre o acontecido, nem entramos no mérito da impunidade - com ela convivemos desde que nos entendemos por gente, e isto não vai mudar tão cedo. Mas pensamos na família que mais esse trabalhador deixou, sem rumo, sem perspectiva... É complicado. Não há a menor garantia de que os três filhos e a viúva desse cara conseguirão se manter.

Os taxistas em Porto Alegre (e acredito que em todo o Brasil) não tem o menor respaldo, são tratados como autônomos, como se a profissão não fosse regulamentada e repleta de exigências. Só tem direito a uma aposentadoria irrisória quem faz os depósitos para o INSS sob sua própria responsabilidade. Perante aos órgãos controladores, só deveres, nenhum direito. Isto é revoltante e desalentador, principalmente pois a categoria está exposta à insegurança crescente, à toda sorte de acidentes, entre outras coisas.
Em outra oportunidade, diversos taxistas ocuparam a frente da residência do governador Tarso Genro. Desta vez, bloquearam algumas das principais vias de Porto Alegre. Nunca houve qualquer efeito prático, nenhum. Pelo contrário, só aumentaram as exigências, como, por exemplo, a padronização da vestimenta e a imposição da implementação de GPS na frota. Enquanto isso o dia-a-dia nas ruas segue pesado, com o trabalhador saindo de casa sem nenhuma certeza se irá voltar no final da jornada.

Derivo. Ano passado, antes de um jogo entre Grêmio e Santos, na Arena, houve uma grande confusão entre um grupo e policiais militares. Após tentar deter integrantes desse grupo, os brigadianos foram recebidos com pedras e garrafas, no que responderam com tiros de bala de borracha. Um torcedor, que passava no momento dos disparos, foi atingido no rosto e perdeu a visão do olho direito. Mais de um ano depois, em meio ao processo instaurado pelo torcedor para que o poder público o indenizasse, uma surpresa.
Um procurador do Estado, certamente fora da normalidade de suas faculdades mentais, afirmou que o atingido se posicionou na "linha de tiro" dos policiais militares. Inacreditável, absurdo, ridículo! A postura da corporação nesse caso não tem o mínimo de sensibilidade e empatia com o demandante e com o contexto do ocorrido. Impossível não sentir mais nojo, mais repulsa deste órgão podre de tão corrompido, que sequer é capaz de garantir a segurança dos cidadãos de bem.

Enquanto isto, na periferia de Porto Alegre, escolas e postos de saúde são sistematicamente fechados pelo poder paralelo, geralmente chefiado pelos líderes do tráfico, que querem evitar "empecilhos" em meio à guerra pelo comando das ações nas vilas. Sim, existe toque de recolher em Porto Alegre, e as polícias Civil e Militar, respaldadas pela inútil Secretaria de Segurança Pública, fazem vista grossa, negando até a morte - geralmente de inocentes -, enquanto a bandidagem faz a festa.
A corda sempre estoura do lado mais fraco; neste caso, da população impotente frente às ameaças que podem até cessar em alguns momentos, mas volta e meia aterrorizam as pessoas de bem, que só querem trabalhar e viver dignamente. Não se vê a menor rigidez no combate ao crime organizado, as ações são sempre inócuas, permitindo as famosas brechas - parece óbvio, se fosse diferente e o combate fosse incisivo, a guerra civil estaria declarada, e talvez víssemos uma luz no fim do túnel.

Do crime organizado ao lazer desorganizado. A Leal e Valerosa Cidade de Porto Alegre cresceu em muitos aspectos, mas a alma do porto-alegrense segue mais provinciana do que nunca. Estamos em 2014, pensando como em 1964, barrando o desenvolvimento econômico das formas mais esdrúxulas possíveis. Ao longo dessa semana, diversos bares e casas no bairro Cidade Baixa, reduto boêmio da capital gaúcha, foram fechados pela prefeitura.
O argumento para as interdições era a poluição sonora. Santa ingenuidade de quem acreditou nesse papinho. O problema não é, nunca foi, e nunca será os lugares em si. Todo mundo sabe que os bares foram fechados por conta das badernas nas redondezas dos estabelecimentos, que se estendiam pelas madrugadas afora. Vivemos uma crise de comportamento. Estamos muito extremistas, não damos o braço à torcer em nenhuma situação.

Querem fazer este movimento migrar para as margens do Estuário do Guaíba, no entorno do praticamente inutilizado e esquecido Anfiteatro Pôr-do-Sol, onde uma menina foi estuprada a algumas semanas, justamente pela falta total de segurança. Isso só pode ser uma piada de péssimo gosto. Tudo bem que a Cidade Baixa é uma região originalmente residencial, mas isolar um público que movimenta e aquece a economia da região é algo totalmente absurdo.
Por outro lado, é necessário organizar a bagunça que o bairro se tornou. Nasci e morei durante 4 anos lá, e meus pais souberam bem o inferno que foi criar três crianças pequenas em meio àquele ambiente - que melhorou muito desde então, devo admitir. Mesmo assim, há muito o que melhorar. Se as pessoas tivessem um pouco mais de noção e consciência, nenhuma atitude extrema seria tomada, e o lazer, o trabalho e a segurança seriam satisfatórias na cidade que tanto amamos. Até lá, vida que segue, se possível.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que não vou abrir meu voto?

* este texto não reflete a opinião do blog Vida Cancheira, e sim do blogueiro responsável por esta postagem


Estamos chegando ao final de uma maratona eleitoral onde todos os envolvidos parecem cada vez mais exaustos, querendo somente que tudo isso acabe de uma vez por todas. São mais de três meses de campanha e até os militantes mais atuantes aparentam estar de saco cheio de discussões, de debates, de tudo que envolve o jogo eleitoral... Nesses tempos esquecemos que o jogo que está sendo disputado de verdade é o político, que esse embate eleitoral intenso é apenas nesse período que acontece de dois em dois anos, onde muitos vestem suas camisetas, empunham suas bandeiras e vão às ruas. E no restante do tempo? Onde fica toda essa gente esclarecida, politizada e sedenta por mudanças?

Há pouco mais de um ano, vivenciamos um momento histórico, onde milhares de pessoas tomaram as maiores cidades do Brasil, reivindicando uma série de coisas que nunca pareceram claras naquele processo, mesmo sendo notável o fato de haver um movimento popular visando melhorias em prol da população. Por mais expressivas e intensas que pudessem ter sido aquelas manifestações, o reflexo nas urnas neste 2014 não foi tão relevante assim. Percebi um reflexo muito maior em redes sociais, onde proliferam manifestações do mais puro senso comum, desde o fatídico junho de 2013, até os dias que estamos vivendo.

Tudo isso é reflexo da democracia instituída neste país a 29 anos. Democracia esta que permite toda forma de pensamento e expressão, que permite o voto direto - mas ainda, infelizmente, obrigatório -, que permite que eu esteja escrevendo sobre política em um blog sem ter medo de ser censurado ou repreendido de alguma forma. Democracia esta que está verde na República Federativa do Brasil. Sim, acho que poucos pensam nisto, mas fazem apenas oito anos que ultrapassamos o período que vivemos sob uma severa ditadura militar. Tempo que eu, particularmente, considero muito pouco para o amadurecimento de um modelo governamental.

O modelo democrático não amadureceu e as pessoas ainda não se acostumaram a ele. Faz parte. Tenho na minha cabeça que a democracia só começará a funcionar satisfatoriamente no Brasil daqui a duas gerações. Enquanto a maior parte dos votantes - reitero, obrigados a votar - for formada pelos filhos do "Brasil, ame-o ou deixe-o", estaremos condenados a conviver com o conservadorismo, com as tendências ao retrocesso, em todas as esferas. Por óbvio, uma escolha válida, também produto da democracia conquistada a duras penas pela nossa população. São apenas 29 anos consecutivos de democracia em um país com 514 anos de vida e história.

Voltando ao processo eleitoral deste ano. A imensa maioria das pessoas do meu convívio tem posicionamento bem definido entre os tantos candidatos que começaram a corrida, e agora entre as duplas que chegaram à reta final. Um posicionamento firme e muitas vezes agressivo, vindo de pessoas que normalmente não costumam discutir política, não me serve, não me satisfaz. Lamentavelmente é isto que tenho visto, inclusive de pessoas muito próximas a mim. A postura de denegrir o oponente, ao invés de exaltar o proponente, reflete muito bem o (mau) comportamento dos candidatos, sobretudo nos debates televisionados ao longo dos últimos dois meses. E isto é extremamente nocivo para o processo.

Também tenho meu voto e meu posicionamento bem definidos, mas nem por isso preciso ir às redes sociais metralhar argumentos para defender meus candidatos. Não preciso ofender os contrarreligionários, seja lá de qual adjetivo for, para desmoralizá-lo. Não preciso usar desse maldito maniqueísmo imperante no Rio Grande do Sul que diz que não devemos apenas gostar de um, mas como também odiar o outro. A democracia também me permite que eu reconheça méritos em quem eu não for escolher, e assuma os deméritos dos meus indicados. Precisamos adquirir maturidade enquanto entes participantes de uma democracia. Vamos embarcar ao menos nesse vagão do trem da história?

sábado, 30 de agosto de 2014

United colors against discrimination

Que toda discriminação vá para a lata do lixo. (Foto: beingliberal.org)

Falar sobre preconceito e discriminação nos coloca em um mar complicado de navegar, correndo riscos sérios de ser engolidos por ondas de demagogia, oportunismo e hipocrisia. Talvez seja por isso que eu tenha perdido um pouco o timing dos acontecimentos lamentáveis da última quinta-feira, em Porto Alegre, e que terão reflexos muito fortes nas próximas semanas. A conclusão que se chega é: o mundo cansou de discriminação. A pergunta que fica é: o que cada um de nós está fazendo em prol disto?

Eventual e sistematicamente cometemos atos de discriminação. Em algum momento, todos nós somos racistas, homofóbicos, ou discriminamos alguém por sua condição social, religião, gênero, peso, altura, idade... Todos, sem exceção. Quantas vezes fazemos piadinhas sobre a gordinha que o amigo ficou na festa? Ou então sobre o baixinho que não conseguiu afastar a bola de cabeça na pelada do domingo? Ou ainda, deixamos de ouvir ou não levamos em consideração o que uma pessoa tinha a dizer, pela sua forma de vestir?

Sempre fui contra essa onda de "politicamente correto". Me parecia uma chatice, uma patrulha excessiva, sem razão de ser. No entanto, conhecendo e entendendo um pouco melhor o mundo e as pessoas que o habitam, mudei de opinião. Será que é tão difícil assim nos tratarmos como iguais? Não é amar todo mundo, ser amigo de todo mundo, isso acaba sempre remetendo a uma relação falsa, forçada... É respeitar todo mundo, seja qual forem suas escolhas, seja como for seu corpo.

Estamos vivendo uma guerra motivada por questões religiosas no outro lado do mundo. Tenho certeza que as pessoas não querem que guerras por questões étnicas, sociais e religiosas aconteçam ao nosso lado - ainda que, na minha visão, elas já aconteçam de forma velada. Já basta a guerra civil com a qual convivemos todos os dias, por queremos ter vantagens em tudo, por entendermos que a lei da impunidade é a que melhor funciona neste país. Todos somos parte do extrato final que temos hoje em nossa sociedade, logo, todos podemos mudar isto de alguma forma.

Não entrei no mérito do futebol, produto principal deste blog e contexto social que motiva a publicação deste texto. Por quê? Porque o futebol é apenas mais uma parte do macroambiente onde vivemos. A diferença é que muita gente pensa que as cadeiras ou arquibancadas de um estádio são um universo à parte, onde os valores morais e éticos podem ser esquecidos, sem que isto provoque uma consequência. Só que esquecemos também que o espetáculo do futebol é feito por seres humanos, com seus valores, sentimentos e diferenças.

A forma como nos comportamos com um jogador dentro de campo, ou com o torcedor que está na arquibancada visitante, é a mesma postura que temos com o cara que nos fechou no trânsito, com o vendedor da loja com um visual diferente do nosso, ou ainda com a pessoa com um gosto musical alternativo. Parece que temos um prazer quase sexual em desprezar e tentar rebaixar quem é diferente. Isso não é campanha social do governo ou iniciativa de um clube de futebol que vai mudar, infelizmente.

Minha mãe sempre diz que educação vem de casa. E educação também compreende respeitar e entender as diferenças. Logo, o resultado para esta equação está em casa um de nós, em nossa educação e em nossa consciência do que é certo e errado. Infelizmente o preconceito e a discriminação vão levar algumas gerações para serem extirpadas da nossa sociedade. Felizmente hoje conseguimos ver uma luz no fim do túnel. Vamos fazer a nossa parte?

terça-feira, 8 de julho de 2014

O resultado de nossas escolhas

Toda ação gera uma reação. Os brasileiros que o
digam (Foto: Alex Livesey/Getty Images)
Nada na nossa vida é por acaso. Aprendi isso a duras penas ao longo desses quase 24 anos que me marcam a paleta. Muitas vezes me vi na mesma situação em que o goleiro Júlio César se viu hoje, ainda antes de sair do gramado do Mineirão, ao proferir a seguinte frase: "É complicado explicar o inexplicável". Depois de um momento de violenta reversão de expectativa, é até certo ponto natural nos sentirmos assim, impotentes, incrédulos, sem saber o que responder quando o que todos ao nosso redor querem é justamente isto. Respostas. Lúcidas, coerentes e que expliquem, convincentemente, algo que deu errado. Muito errado.

E para a seleção brasileira de futebol, neste dia 8 de julho de 2014 que entra para a história, as coisas deram mais que "muito errado". O Brasil deu adeus à Copa do Mundo que disputava em casa da forma mais surpreendente. Eis que, justamente pelo inesperado, pelo ineditismo da coisa toda, nos vemos perguntando: por quê? Se o time que representava o país-sede do Mundial tivesse perdido de uma forma mais aceitável, mais digna, conseguiríamos entender melhor o que aconteceu em Belo Horizonte. Faltando 8 dias para completar 64 anos da maior tragédia dentro de campo do futebol brasileiro até então, a qual ainda tentávamos entender, ela foi subitamente substituída na cabeça e nos corações dos brasileiros.

Derivo. Para tentar entender um pouco o patético inexplicável, começo me baseando em um livro que estou lendo, chamado "A Força do Absurdo", que busca razões para atitudes irracionais que todos temos no nosso cotidiano. Não cheguei sequer a metade da leitura, no entanto, determinado capítulo me chamou a atenção. Ele fala sobre "comprometimento", que, resumindo, é a manutenção de determinado status perante a sociedade, ou perante si mesmo. Felipão pecou pelo tal "comprometimento". Isto me parece claro como a água. Comandando uma equipe, uma instituição que leva consigo o peso de ser historicamente superior às demais, o treinador brasileiro não foi capaz de absorver este peso. E não o suportou.

Indo para o aspecto mais simplista do futebol enquanto esporte, existe uma máxima que diz que "futebol é momento". Quando eu comecei a acompanhar futebol, existia outra premissa vigente, a que "camisa ganha jogo". Elas são totalmente incoerentes entre si, e imagino que todos que acompanham futebol tenham plena consciência disto. O técnico Luiz Felipe Scolari não teve esse discernimento. Por quê? Porque ele se vergou ao "comprometimento". Ele quis provar que a grandeza da camisa brasileira poderia vencer o melhor momento do futebol alemão. Logo, jogou de igual para igual contra uma equipe muito melhor construída e muito mais qualificada, e deu no que deu.

Não bastasse isso, Felipão abraçou mais forte o "comprometimento", e o peso dele foi o levando para o fundo do poço. Sim, pois o fato de matar no peito a situação e manter o time sem trocas durante toda a primeira etapa, enquanto o jogo desandava dentro de campo, foi fruto desse "comprometimento". É um comportamento que parece subconsciente, para quem vê de fora. Mas, dentro da cabeça de quem está sendo derrubado pelo "comprometimento", tudo é muito claro, uma sequência de ações que vai botando tudo a perder. Porque, como disse no começo deste texto, nada na nossa vida é por acaso. É como em um jogo de xadrez: um simples movimento pode ser limítrofe entre a glória e o fracasso.

Agora, este é apenas um fator dentre tantos outros que estão no contexto da derrota brasileira. Me parece ser o momento mais propício para aprender com alemães, espanhóis, entre tantos outros que apresentam um futebol mais evoluído. Tudo isso para que o Brasil não chegue em um momento crucial de Copa do Mundo tendo como alternativas jogar como "time pequeno", depender apenas de um grande jogador, ou tentar ostentar uma grandeza que ficou no passado e correr riscos, como os que correu hoje, e o resultado disto ainda está vivo nas nossas retinas. O brasileiro tem uma incrível síndrome de vira-latas para tantas coisas, e uma arrogância tão grande para o futebol...

Um momento de quebra, um fato histórico como este, pode nos fazer rever diversos conceitos. O futebol é uma das melhores metáforas para a vida. Quem sabe viver um momento chocante, ainda que não seja tão sério, porque é apenas esporte, nos faça deixar de ser um pouco arrogantes com a vida, ou então nos faça largar o pensamento mágico que tantas vezes nos guia. Se não fizer isso, que sejamos capazes de compreender com maior frieza os fracassos em nossas vidas. Espero que quem lida com o futebol no Brasil seja capaz de entender o que aconteceu e evitar mais sofrimento para as pessoas que se importam com o futebol, que, se não é tão sério, é o esporte que mora no coração de 200 milhões de pessoas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Vida Cancheira na Copa do Mundo

Sim, vocês não leram errado! O Vida Cancheira está de volta depois de um longo inverno de mais de um ano, para participar desta grande festa do futebol mundial que é a Copa do Mundo, sobretudo porque ela será disputada este ano em nosso país.

O podcast gravado na noite desta quarta-feira (11) teve como objetivo dar uma amostra do que os próximos 32 dias nos reservam, e explicar como funcionará a nossa participação ao longo da competição. Além de ser ouvido, o podcast poderá ser baixado no formato .mp3.

sábado, 7 de junho de 2014

a.F. e d.F.

Provavelmente a grande noite e o gol mais importante do eterno Capitão
pelo Internacional (Foto: Reprodução/O Globo)
Impossível me estender muito. Na manhã deste sábado o mundo do futebol foi surpreendido com a trágica e triste morte de Fernando Lúcio da Costa, aos 36 anos. Grande ídolo das torcidas do Internacional e do Goiás, a biografia de Fernandão dispensa maiores apresentações. Um cara que talvez tenha sido mais admirado pela sua postura profissional e humana, além da liderança dentro de campo, do que propriamente pela qualidade enquanto jogador de futebol. Inegavelmente foi um personagem importantíssimo na história do futebol gaúcho e brasileiro.

Fernandão foi o símbolo de um novo Internacional. Fernandão talvez tenha sido o maior responsável por eu ter mudado minha visão sobre a rivalidade Gre-Nal, fazendo com que eu aprendesse que era possível torcer pelo Grêmio, sem necessariamente desrespeitar o Internacional. Um cara como Fernandão faz com que hoje eu consiga me colocar no lugar dos torcedores colorados, que acaba de perder não só um ídolo, mas o símbolo da mudança de patamar do seu clube. Veja só, o mesmo cara que não cansava de ressaltar que "ninguém poderia ser maior que o clube".

De fato, Fernandão não era maior que o Internacional, mas certamente foi o maior que passou pelo clube, ajudando-o a torná-lo ainda mais Gigante. Um clube de futebol faz com que as pessoas que lá estão de certa forma façam parte de nossas famílias. E às vezes a vida é injusta, leva os bons muito cedo e deixa os nem tão bons assim fazendo hora extra entre nós. É como se um familiar de cada colorado estivesse os deixando neste sábado cinzento. Fica o pesar, os sentimentos à toda família do Fernandão, família muito maior do que ele mesmo poderia imaginar.

De certa forma sou grato ao Fernandão. O gol 1000 em Gre-Nais. O gol e a atuação no Gre-Nal que decretou nossa queda. Os gols que lhe deram a artilharia da Libertadores de 2006. O pedido para sair naquele maldito 17 de dezembro de 2006. Tudo isso fez com que eu encarasse o futebol com outros olhos. Tudo isso fez com que eu encarasse nosso maior rival com outros olhos. Capitão do Internacional, capitão da América, capitão do Mundo. Capitão da vida. O futebol agradece por ter tido o privilégio de acolher uma figura humana gigante como Fernandão. Fique em paz, onde estiveres, Capitão.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Crônicas de Domingo: Looping

Foi no final do semestre passado. Fui convidado pelo meu grande amigo Isack Martins a ir na festa Terra/Ceu ali nas entranhas da João Pessoa na frente da Ufrgs. Imagine um prédio somente de jovens estudantes. Imaginaram? Pessoas muito inteligentes, centradas e com os hormônios a mil. Detalhe: Não fui sozinho. Jhon Tedeschi também estava na barca. Realmente foi um final de semestre puxado para uns e de desespero para outros. Afinal o verão batia na nossa porta juntamente com as férias e como pensar em provas? Foco é a palavra fácil de escrever e falar mas agora cumprir com os detalhes acima não é para qualquer um.

Mas vamos ao que interessa. Me chamou atenção a banda que tocava variados tipos de musica, uma morena de olhos azuis que cursava engenharia de minas. Não lembro do nome dela porém jamais esquecerei aquele olhar. Tinha gente mais exaltada e outros mais tímidos. Quem tava ali sentia alivio por ter passado um semestre inteiro lutando e ralando. Mas também tinha uma nostalgia no ar.

Nostalgia é o estado de negação da realidade. Frase forte essa que tirei de um dos filmes do Woody Allen. Pessoas agindo como se tivesse na década de 80 sendo que elas não viveram na década de 80! Isso que é curioso e me faz pensar. Como sentir saudade de uma época que não vivi? Ou negar a realidade em que vivo? Isso é mais fácil. Negar é sempre mais fácil pois assumir requer responsabilidade, maturidade e aceitação. Adjetivos nobres convenhamos.

Havia uma guria que fazia Analise e Desenvolvimento de Sistemas. Ela não era do prédio nem estudava na Ufrgs e tampouco era festeira. A mesma parecia um lambari fora d'água pulando e tentando de todas as formas voltar ao seu ambiente natural. Concordamos que ela estava "negando" seu ambiente natural. Finalmente cheguei a uma conclusão que mudar é difícil. As pessoas negando algo estão pensando que estão mudando e pensar assim é perigoso. Negar e mudar são verbos de ações completamente diferentes o ultimo requer mudar ações aos poucos cada um no seu ritmo já o primeiro pode colocar-nos em um Looping (Laço de repetição) eterno onde a superação de algo não é uma opção infelizmente.

Portanto nessa primeira crônica de 2014 desejo a todos sabedoria na aplicação de suas ações. Mudem aos poucos, neguem se for necessário mas tenha cuidado. Pois não há nada mais triste que ficar em um Looping onde em pleno verão buscamos o inverno ou simplesmente buscar um He-man onde hoje só existe um Rafael Moura.