segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O drama de adaptar-se à realidade

O senhor está de "brincanagem", presidente?
(Foto: Bruno Alencastro / Agência RBS)
2015 mal começou e o nosso querido Grêmio Foot-ball Porto Alegrense já está dando motivos para a parcela racional de sua torcida se envergonhar - percentual, a propósito, cada vez menor. O presidente que assumiu o clube no final do ano passado, Romildo Bolzan Júnior, dá a entender e deixa a mídia noticiar que o Grêmio está encabeçando um movimento para o retorno da disputa do Brasileirão com o inglório e nada saudoso mata-mata.

Acho que muita gente (por "muita gente" leia-se "muitos gremistas") ainda vive presa ao passado, o que faz com que sintam falta dos formulismos bizarros que nos foram apresentados até 2003, quando o campeonato passou a ser disputado por pontos corridos. Não entrarei no mérito de justiça, porque eu, você, e até sua tia que não entende lhufas de futebol sabemos que não existe isso dentro das quatro linhas. Se a justiça não aparece nem nos tribunais, vão querer cobrar sua aparição nos campos de futebol?

No entanto, os pontos corridos premiam o clube que leva o certame mais à sério. Seja por ter melhores condições financeiras para montar um elenco decente, seja por ter uma torcida fanática que torne seus jogos como mandante um inferno para o adversário, seja por não ter outros campeonatos fazendo com que a atenção seja dividida - ponto a ser explorado em outro post. O Cruzeiro, atual bicampeão brasileiro, não me parece ter nada de fantástico em comparação aos outros 19 clubes, a não ser em dois aspectos: organização e engajamento.

Organização que o Grêmio, com a proposta de seu presidente, assume não ter. A turma da memória seletiva certamente não lembra, mas no último campeonato de pontos corridos da história, em 2002, o próprio Tricolor porto-alegrense foi prejudicado pela fórmula, ao ser eliminado nas semi-finais pelo Santos, 8º colocado na fase inicial do torneio, enquanto o Grêmio havia sido o 4º (o time da Vila, inclusive, derrubara anteriormente o São Paulo, campeão da 1ª fase).

Isso de querer modificar as regras do jogo, ao invés de aceitá-las, já causou uma mancha irreparável na história do Grêmio, quando o clube "virou a mesa" na disputa da segunda divisão, em 1992. Será que, realmente, os dirigentes vão querer levar adiante essa ideia, que novamente irá riscar a imagem já desgastada do Tricolor gaúcho? Simplesmente não faz sentido travar a evolução que o futebol brasileiro está tendo. Se os pontos corridos não são atrativos, é porque os clubes ainda não entenderam como funciona esse tipo de disputa.

Me ajudem a entender: como em todo o mundo a disputa por pontos corridos dá certo, e só aqui no Brasil que as pessoas tem essa dificuldade de assimilar este modelo de disputa? O mundo mudou, o futebol mudou, e só aqui as pessoas parecem estagnadas nos anos 80 e 90, querendo um futebol jogado e (des)organizado como naquela época. O jogo é esse, as cartas estão na mesa e não tem mais volta. Se o Grêmio não quiser mais os pontos corridos, beleza, é só cair para a terceira ou quarta divisão, que lá tem mata-mata a vontade.