domingo, 18 de setembro de 2016

Melancolia instituída

Até o presidente Romildo Bolzan Júnior, uma ilha de lucidez dentro do Grêmio, perdeu os rumos de suas atitudes (Foto: Rodrigo Rodrigues / Grêmio FBPA)
Quando me proponho a parar e escrever sobre o Grêmio, procuro ser o mais coerente possível. Pode não fazer sentido para quem lê meus textos recheados com cornetas e críticas, até para quem me acompanha em redes sociais, onde pego ainda mais pesado com o clube. Só que agora, depois da derrota para o Fluminense que derrubou o Grêmio para a metade de baixo da tabela do Brasileirão, dentro do contexto de uma vitória nos últimos 10 jogos, comemorando 113 anos sem comando no futebol do clube, tampouco treinador, as coisas precisam mudar.

Mais que as coisas, as atitudes precisam ser diferentes. Em meio a uma ebulição na política, com as eleições para o Conselho Deliberativo, e essa profunda crise técnica dentro de campo, o momento é de abraçar o clube como um todo. Talvez eu até tenha dito o contrário nos últimos dias, em meio ao descontentamento com as atuações insuficientes, goleadas sofridas e declínio na classificação do Campeonato Brasileiro. Caras, hoje o Grêmio está na 2ª página da classificação e há uns 30 dias nós sonhávamos até com o título brasileiro. A luz que já era amarela ganhou tons alaranjados.

O velho-novo treinador é Renato Portaluppi, que é muito menos técnico que o antecessor Roger Machado, mas que como treinador pode dar algum resultado. A verdade é que o Grêmio está desgovernado. As atitudes não são tomadas à luz da sobriedade, e sim passando a impressão de que todos estão sob efeito de alguma bebida muito forte – a qual poderia amenizar o nosso sofrimento com toda essa conjuntura. As chances de fracasso são consideráveis, quarta-feira já teremos mais um “jogo mais importante da temporada”, quando uma vaga nas quartas-de-final da Copa do Brasil será decidida contra o Atlético-PR, na Arena.


Seja como for, abandonar não vai adiantar nada, nada mesmo. Todo torcedor sabe onde aperta seu calo e sabe melhor ainda de onde tira para seguir contribuindo com o clube. Muitas vezes tiramos de onde não temos, quando o que temos, na verdade, são motivos para nos indignarmos com esse momento lamentável que o Grêmio vive. Mas o time está em queda livre e precisa da nossa força para que tudo não se torne um drama maior ainda nesse final de 2016. A distância para a zona de rebaixamento está em míseros 9 pontos e isso é assustador, um desastre desse tamanho seria a maior reversão de expectativas da história do clube.

O Grêmio não vence a mais de um mês, e nesse setembro são 4 derrotas em 5 jogos, duas delas goleadas impiedosas sofridas para Coritiba e Ponte Preta. As escolhas erradas cobraram seu preço em um momento crucial da temporada. A insistência em algumas situações de jogo, com alguns jogadores, ou ainda a incapacidade de mudar ou se reinventar podem ser causas, mas não me cabe chegar aqui como profeta do acontecido. Seria de um mau-caratismo e oportunismo sem tamanho. O fato é que a ilusão que tínhamos no começo do campeonato foi jogada na lata do lixo, e poucas coisas entristecem mais do que isso.

Bom, desta vez estou sendo breve, porque não há muito a ser dito. Esses dias, em uma transmissão de um jogo do Vasco, na Série B, o comentarista dizia que “o torcedor só vai ao estádio quando o time empolga, ou quando está precisando dele”. O Grêmio está precisando de nós. Temos que estar juntos com nosso time, como diz aquela música, “na ruim muito mais”. Não precisamos apoiar incondicionalmente, muito menos aplaudir derrotas. O importante é mostrarmos que não abandonamos o clube e que podemos evitar o pior. Afinal, mesmo melancólico, 2016 ainda não acabou.

domingo, 4 de setembro de 2016

Não me digam o que pensar, não me julguem por sentir

Camilo marcou um gol antológico, que abriu o caminho para a ótima vitória do Botafogo sobre o Grêmio (Foto: Vítor Silva / SSPress / Botafogo FR)
O texto de hoje poderia muito bem ser a continuação do que escrevi no início da semana que passou sobre o jogo do Grêmio contra o Atlético-MG. O tão falado jogo a menos que o time de Roger Machado tinha a cumprir contra o Botafogo foi um desastre. O placar de 2 a 1 não condiz com o que foi a partida, foi totalmente enganoso. Afirmo isto avaliando o quão fraca e calamitosa foi a atuação gremista na tarde deste domingo, mesmo com os desfalques de Marcelo Grohe, Pedro Geromel e Miller Bolaños (esse nem tão desfalque assim). Foi aquele famoso jogo onde ninguém ganha nota maior que 5 na avaliação dos jornais na segunda-feira, todos com atuação abaixo das suas médias históricas no campeonato.

Começamos pelo ânimo do time. Nunca saberemos o que havia no almoço dos jogadores em algum dos luxuosos hoteis da capital carioca, se o calor era tão forte que pudesse causar danos cerebrais aos jogadores ou se aconteceu algo sobrenatural no trajeto pela Linha Vermelha. A verdade é que o time entrou em campo absolutamente travado. Podem dar a desculpa do péssimo gramado, digno dos melhores campos de várzea do Brasil, mas o terreno de jogo é o mesmo para os dois times; se o Botafogo consegue trocar passes no gramado do Luso-Brasileiro, e o Grêmio não, eis um grande problema. E quando Luan é o jogador mais aceso do time em um jogo – não que isto deponha contra ele –, aí é o momento de chacoalhar de vez o elenco.

A vontade que tenho, hoje, é buscar fragmentos de textos sobre outros jogos e registros de redes sociais para não passar por oportunista. Mas como não tenho a cara de pau suficiente para fazer isso, vamos às minhas impressões... O atual técnico gremista não tem o perfil para a chacoalhada supracitada, muito menos há dirigentes no clube com este culhão, já me desculpando pelo termo. Dentro do elenco aparentemente não existe uma liderança obstinada, com moral e capacidade para elevar o time durante os jogos, quando a coisa aperta. O fato de os capitães, pelo menos hoje, serem Maicon e Marcelo Oliveira explica muita coisa. O time é bem montado, mas em alguns jogos se mostra acéfalo, dentro e fora de campo.

Hoje sequer bem montada a equipe foi. O pouco argumento que eu tinha para elogiar o trabalho de Roger Machado se esvaiu como a areia das subestimadas praias da Ilha do Governador. O tal 4-2-3-1, cantado e decantado como a grande virtude gremista, sendo um sistema tático bem estruturado e azeitado, caiu no esquecimento, dando lugar a um Frankenstein com 3 volantes que envergonharia até os maiores entusiastas do catenaccio. Aquele arroz com feijão cumpridor que dava resultados deu lugar a um miojo morno e aguado, que não mata a fome – ou melhor, aumenta o buraco no estômago. Tudo bem que existam desfalques, um gramado horroroso ou o maldito respeito ao adversário, mas não se pode enfrentar um time da linha de baixo da tabela com essa cautela toda, é inadmissível.

O pior não é a escolha pelo número excessivo de “apoiadores” (termo gourmetizado para denominar os volantes), o maior erro foi a disposição deles dentro de campo. Em hipótese alguma pode se tirar Walace da frente da zaga, posição onde ele vinha se destacando no Grêmio e foi muito bem nas Olimpíadas. Deixar ele em uma posição mais à frente, jogando mais aberto que centralizado, é tolher as maiores virtudes dele. A dupla Maicon e Jaílson foi inútil, nem tanto no aspecto técnico, mas no aspecto tático, pois o time ficou totalmente centralizado, pelas características destes jogadores – tecnicamente o campeão olímpico ainda foi pior que os colegas de função. Quanto às substituições feitas no setor, sequer vou me dar ao trabalho de comentar.

Do meio para a frente o time sucumbiu. Sem o “apoio dos apoiadores” e com o perdão do trocadilho, utilizando a referência alimentar feita mais cedo, o ataque morreu de fome. O melhor, como citado anteriormente, foi Luan, que ao menos buscou jogo, se movimentando totalmente fora da sua melhor posição, que é como o chamado “falso-9”. A referência ficou a cargo de Henrique Almeida, um 9 que deveria ser verdadeiro, mas é pior que os falsos. Ele mal tocou na bola, e ainda viu o garoto Matheus Batista, que entrou em sua vaga e numa fogueira altíssima, mostrar seu valor e marcar seu golzinho. Faltou falar de Douglas, mas ele aparentemente faltou ao jogo. Talvez ele nem tenha ido tão mal, até pode ter sido muito bem marcado, mas a postura deste pretenso atleta é uma das coisas mais irritantes que existem.

Dito isto, é necessário ressaltar a grande atuação de um Botafogo que deitou nas fragilidades gremistas, criando chances e dominando as ações até suas pernas acabarem, resultado de uma maratona de 3 jogos em 6 dias. O golaço de Camilo, em uma linda meia-bicicleta, entra para os anais dos maiores gols da história do Brasileirão em todos os tempos. O armador botafoguense também teve atuação importante na criação das jogadas e no abastecimento a Sassá, que marcou o 2º gol e deu permanente dor de cabeça a Kannemann e Wallace Reis. Luís Ricardo foi muito bem na lateral-direita, enquanto Aírton e o argentino Carli foram gigantes no sistema defensivo. O Botafogo, em que pese ter sido goleado pelo Cruzeiro no meio da semana, vem em uma boa crescente, com um time organizado, veloz e perigoso, sobretudo nos contra-ataques. Não deverá correr maiores riscos de rebaixamento.

O Grêmio, por sua vez, segue oscilando, alternando atuações bestiais com atuações de besta, ou atuações de gala com atuações de galinha, sendo um leão (quase) indomável dentro da Arena e um gatinho medroso longe dela. Essa irregularidade se percebe também na relação entre os adversários, pois invariavelmente o Tricolor se complica contra rivais mais fracos. Dos últimos 18 pontos, o Grêmio conquistou apenas 6, e nada melhor que os números para escancarar uma mediocridade que incomoda e muito. Nessa altura do campeonato pensar em título é utopia, e o mais racional é aceitar que teremos que nos contentar novamente com aquela vaga que, vocês sabem...

A realidade é olhar para trás na tabela, pois o pelotão intermediário de Ponte Preta, Fluminense e Atlético-PR se aproxima perigosamente – os dois primeiros, inclusive, são adversários gremistas nas próximas 4 rodadas. Pelo futebol que o Grêmio não vem apresentando nos últimos jogos, ficar pelo caminho é uma possibilidade e a luz amarela deve ser acesa nas bandas da Arena. Eu pedi no último texto uma prova de que o time não travaria nos momentos cruciais e hoje o time não se impôs em nenhum minuto contra um adversário claramente inferior. É muito difícil torcer e apoiar um time sem ambição, e é ainda mais difícil defender um treinador que não consegue tirar esse espírito dos seus comandados.