quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que não vou abrir meu voto?

* este texto não reflete a opinião do blog Vida Cancheira, e sim do blogueiro responsável por esta postagem


Estamos chegando ao final de uma maratona eleitoral onde todos os envolvidos parecem cada vez mais exaustos, querendo somente que tudo isso acabe de uma vez por todas. São mais de três meses de campanha e até os militantes mais atuantes aparentam estar de saco cheio de discussões, de debates, de tudo que envolve o jogo eleitoral... Nesses tempos esquecemos que o jogo que está sendo disputado de verdade é o político, que esse embate eleitoral intenso é apenas nesse período que acontece de dois em dois anos, onde muitos vestem suas camisetas, empunham suas bandeiras e vão às ruas. E no restante do tempo? Onde fica toda essa gente esclarecida, politizada e sedenta por mudanças?

Há pouco mais de um ano, vivenciamos um momento histórico, onde milhares de pessoas tomaram as maiores cidades do Brasil, reivindicando uma série de coisas que nunca pareceram claras naquele processo, mesmo sendo notável o fato de haver um movimento popular visando melhorias em prol da população. Por mais expressivas e intensas que pudessem ter sido aquelas manifestações, o reflexo nas urnas neste 2014 não foi tão relevante assim. Percebi um reflexo muito maior em redes sociais, onde proliferam manifestações do mais puro senso comum, desde o fatídico junho de 2013, até os dias que estamos vivendo.

Tudo isso é reflexo da democracia instituída neste país a 29 anos. Democracia esta que permite toda forma de pensamento e expressão, que permite o voto direto - mas ainda, infelizmente, obrigatório -, que permite que eu esteja escrevendo sobre política em um blog sem ter medo de ser censurado ou repreendido de alguma forma. Democracia esta que está verde na República Federativa do Brasil. Sim, acho que poucos pensam nisto, mas fazem apenas oito anos que ultrapassamos o período que vivemos sob uma severa ditadura militar. Tempo que eu, particularmente, considero muito pouco para o amadurecimento de um modelo governamental.

O modelo democrático não amadureceu e as pessoas ainda não se acostumaram a ele. Faz parte. Tenho na minha cabeça que a democracia só começará a funcionar satisfatoriamente no Brasil daqui a duas gerações. Enquanto a maior parte dos votantes - reitero, obrigados a votar - for formada pelos filhos do "Brasil, ame-o ou deixe-o", estaremos condenados a conviver com o conservadorismo, com as tendências ao retrocesso, em todas as esferas. Por óbvio, uma escolha válida, também produto da democracia conquistada a duras penas pela nossa população. São apenas 29 anos consecutivos de democracia em um país com 514 anos de vida e história.

Voltando ao processo eleitoral deste ano. A imensa maioria das pessoas do meu convívio tem posicionamento bem definido entre os tantos candidatos que começaram a corrida, e agora entre as duplas que chegaram à reta final. Um posicionamento firme e muitas vezes agressivo, vindo de pessoas que normalmente não costumam discutir política, não me serve, não me satisfaz. Lamentavelmente é isto que tenho visto, inclusive de pessoas muito próximas a mim. A postura de denegrir o oponente, ao invés de exaltar o proponente, reflete muito bem o (mau) comportamento dos candidatos, sobretudo nos debates televisionados ao longo dos últimos dois meses. E isto é extremamente nocivo para o processo.

Também tenho meu voto e meu posicionamento bem definidos, mas nem por isso preciso ir às redes sociais metralhar argumentos para defender meus candidatos. Não preciso ofender os contrarreligionários, seja lá de qual adjetivo for, para desmoralizá-lo. Não preciso usar desse maldito maniqueísmo imperante no Rio Grande do Sul que diz que não devemos apenas gostar de um, mas como também odiar o outro. A democracia também me permite que eu reconheça méritos em quem eu não for escolher, e assuma os deméritos dos meus indicados. Precisamos adquirir maturidade enquanto entes participantes de uma democracia. Vamos embarcar ao menos nesse vagão do trem da história?