terça-feira, 8 de julho de 2014

O resultado de nossas escolhas

Toda ação gera uma reação. Os brasileiros que o
digam (Foto: Alex Livesey/Getty Images)
Nada na nossa vida é por acaso. Aprendi isso a duras penas ao longo desses quase 24 anos que me marcam a paleta. Muitas vezes me vi na mesma situação em que o goleiro Júlio César se viu hoje, ainda antes de sair do gramado do Mineirão, ao proferir a seguinte frase: "É complicado explicar o inexplicável". Depois de um momento de violenta reversão de expectativa, é até certo ponto natural nos sentirmos assim, impotentes, incrédulos, sem saber o que responder quando o que todos ao nosso redor querem é justamente isto. Respostas. Lúcidas, coerentes e que expliquem, convincentemente, algo que deu errado. Muito errado.

E para a seleção brasileira de futebol, neste dia 8 de julho de 2014 que entra para a história, as coisas deram mais que "muito errado". O Brasil deu adeus à Copa do Mundo que disputava em casa da forma mais surpreendente. Eis que, justamente pelo inesperado, pelo ineditismo da coisa toda, nos vemos perguntando: por quê? Se o time que representava o país-sede do Mundial tivesse perdido de uma forma mais aceitável, mais digna, conseguiríamos entender melhor o que aconteceu em Belo Horizonte. Faltando 8 dias para completar 64 anos da maior tragédia dentro de campo do futebol brasileiro até então, a qual ainda tentávamos entender, ela foi subitamente substituída na cabeça e nos corações dos brasileiros.

Derivo. Para tentar entender um pouco o patético inexplicável, começo me baseando em um livro que estou lendo, chamado "A Força do Absurdo", que busca razões para atitudes irracionais que todos temos no nosso cotidiano. Não cheguei sequer a metade da leitura, no entanto, determinado capítulo me chamou a atenção. Ele fala sobre "comprometimento", que, resumindo, é a manutenção de determinado status perante a sociedade, ou perante si mesmo. Felipão pecou pelo tal "comprometimento". Isto me parece claro como a água. Comandando uma equipe, uma instituição que leva consigo o peso de ser historicamente superior às demais, o treinador brasileiro não foi capaz de absorver este peso. E não o suportou.

Indo para o aspecto mais simplista do futebol enquanto esporte, existe uma máxima que diz que "futebol é momento". Quando eu comecei a acompanhar futebol, existia outra premissa vigente, a que "camisa ganha jogo". Elas são totalmente incoerentes entre si, e imagino que todos que acompanham futebol tenham plena consciência disto. O técnico Luiz Felipe Scolari não teve esse discernimento. Por quê? Porque ele se vergou ao "comprometimento". Ele quis provar que a grandeza da camisa brasileira poderia vencer o melhor momento do futebol alemão. Logo, jogou de igual para igual contra uma equipe muito melhor construída e muito mais qualificada, e deu no que deu.

Não bastasse isso, Felipão abraçou mais forte o "comprometimento", e o peso dele foi o levando para o fundo do poço. Sim, pois o fato de matar no peito a situação e manter o time sem trocas durante toda a primeira etapa, enquanto o jogo desandava dentro de campo, foi fruto desse "comprometimento". É um comportamento que parece subconsciente, para quem vê de fora. Mas, dentro da cabeça de quem está sendo derrubado pelo "comprometimento", tudo é muito claro, uma sequência de ações que vai botando tudo a perder. Porque, como disse no começo deste texto, nada na nossa vida é por acaso. É como em um jogo de xadrez: um simples movimento pode ser limítrofe entre a glória e o fracasso.

Agora, este é apenas um fator dentre tantos outros que estão no contexto da derrota brasileira. Me parece ser o momento mais propício para aprender com alemães, espanhóis, entre tantos outros que apresentam um futebol mais evoluído. Tudo isso para que o Brasil não chegue em um momento crucial de Copa do Mundo tendo como alternativas jogar como "time pequeno", depender apenas de um grande jogador, ou tentar ostentar uma grandeza que ficou no passado e correr riscos, como os que correu hoje, e o resultado disto ainda está vivo nas nossas retinas. O brasileiro tem uma incrível síndrome de vira-latas para tantas coisas, e uma arrogância tão grande para o futebol...

Um momento de quebra, um fato histórico como este, pode nos fazer rever diversos conceitos. O futebol é uma das melhores metáforas para a vida. Quem sabe viver um momento chocante, ainda que não seja tão sério, porque é apenas esporte, nos faça deixar de ser um pouco arrogantes com a vida, ou então nos faça largar o pensamento mágico que tantas vezes nos guia. Se não fizer isso, que sejamos capazes de compreender com maior frieza os fracassos em nossas vidas. Espero que quem lida com o futebol no Brasil seja capaz de entender o que aconteceu e evitar mais sofrimento para as pessoas que se importam com o futebol, que, se não é tão sério, é o esporte que mora no coração de 200 milhões de pessoas.