segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Depois da palavra falada, a palavra escrita

Imagem que só não é mais ilustrativa por falta de gente (Foto: Divulgação / Rádio Independente)
Este domingo marcou o final vitorioso de um ciclo em 2017. Por que vitorioso? Porque quando tu adotas um produto, em especial nesse meio antropófago, que é o da comunicação, tu torces para que ele te leve o mais longe possível. A Rádio Independente teve o Esporte Clube São José como seu principal produto nesse segundo semestre, estando em todos os jogos no Passo d’Areia na Série D e na Copa Paulo Sant’Ana, além de marcar presença nos jogos fora de Porto Alegre. A classificação para a Série C bateu na trave, mas o título da Copinha coroou o trabalho do clube, do "porteiro ao presidente", como gosto de dizer. Coroou também a valorização que demos ao produto São José, uma verdadeira aposta em um clube que vive à sombra de dois gigantes do futebol brasileiro, sem nenhum apelo na grande mídia.

Até aqui falo em nome da nossa equipe campeã, que também soube se valorizar e evoluir à medida que as jornadas ganharam importância e que o trabalho se tornou relevante, inclusive aos olhos de outros veículos maiores. Mas preciso falar por mim... Ninguém chegou para mim e disse que a estrada como locutor seria uma barbada. Fiz o curso para obter a habilitação e ter uma outra alternativa profissional, além da inegável paixão que tenho pelo rádio e pela comunicação. Fiquei quase um ano com a habilitação engavetada e amadurecendo o momento no qual eu iria me expor a um microfone, fora dos estúdios da "academia". Quase que despretensiosamente, acompanhando, olhem só, o próprio São José, surgiu uma oportunidade na pessoa do Daniel Félix, que viria a se tornar meu coordenador na Rádio Independente, além de um grande amigo.

Amizade... Em uma caminhada tortuosa, como é a do rádio, as amizades são conquistas de valor inestimável. Convivemos com pessoas, conhecemos lugares, experimentamos sensações que, para quem acompanha e verdadeiramente gosta de futebol são um privilégio, de poder contar coisas de um esporte que mobiliza e emociona tanta gente. Tudo começou no nada distante 25 de junho deste ano, em um Passo d’Areia com portões abertos pela primeira vez na Série D, para ser o plantão da jornada que definiria o futuro do São José na competição, no jogo contra o Ituano. Aquele cara que nunca havia aberto um microfone para o mundo ouvir, tremia como todo iniciante que se preze, mas sobreviveu àquele desafio e entendeu que se tinha alguma coisa que ele queria para si, era se embebedar dessa latinha cheia da cachaça a que tanto se referem os radialistas.

Do plantonista que estava se tornando confortável ao repórter/comentarista totalmente sem desenvoltura foram 3 jogos e uma viagem de quase 20 horas até São Bernardo do Campo. Outra experiência marcante, por tudo que envolveu aquela epopeia, pelo que foi o jogo, pelas pessoas que conheci nesse processo. Faltava uma coisa: o campo. Por mais que eu soubesse que não me daria muito bem metendo microfone na boca de boleiro, queria tentar, queria esse desafio. E ele não demorou a vir... 17 de agosto, estreia do São José na Copa Paulo Sant’Ana, coincidentemente contra o Aimoré, no estádio Monumental do Cristo Rei, numa noite esquisita de quinta-feira. Uma que outra tímida entrevista, participação na coletiva do então técnico do time porto-alegrense e um desempenho abaixo da crítica. Nada que me deixasse chateado, ou algo do gênero, afinal, era apenas o primeiro jogo.

Existe um chavão que diz que "o Brasil tem 200 milhões de treinadores", ou algo assim. Todo brasileiro que gosta de futebol tem um quê de corneteiro ou de comentarista que parece algo inato. Óbvio que comigo não seria diferente, e veio o primeiro convite para comentar uma partida e também a primeira participação em uma rádio AM, na Metrópole, de Cachoeirinha. Estádio Antônio Vieira Ramos, em Gravataí, um xoxo 0 a 0 entre Cruzeiro e Igrejinha. A tarde de sábado onde me senti mais à vontade com um microfone em punho e menos à vontade em uma cabine com espaço físico reduzido, que dividi com o amigo Jefferson Couto. Ali descobri o que eu queria e o que eu poderia fazer de melhor se tratando de rádio esportivo. Já imaginava que eu conseguiria desempenhar melhor no comentário, mas não esperava tanta naturalidade da minha parte.

A Copa Paulo Sant’Ana foi um baita laboratório, tanto para mim, quanto para a Rádio Independente, que abriu seu microfone para uma grande e competente equipe ao longo da competição. É uma satisfação enorme criar esses laços de convivência e amizade com cada um da equipe, com quem pude aprender muito para evoluir a cada jornada esportiva. Até então, só havia participado das transmissões de jogos da dupla Ze-Cruz, e não me interessava tanto pela dupla Gre-Nal. No entanto, com a caminhada do Grêmio na Libertadores da América, surgiu a Rede do Futebol, e com ela o convite para comentar Grêmio e Botafogo, na Arena. Os amigos Daniel Félix, Fabiano Barbosa (ou Barbosa Júnior, como o próprio prefere) e Ciro Götz comandaram uma grande transmissão, desde às 20h até quase 1h da madrugada, coroada com a classificação gremista em pleno 20 de setembro.

À medida que o São José avançava na Copinha e eu buscava evoluir, tanto na cabine, quanto na beirada do campo, uma nova experiência apareceu nessa jornada: fazer jogos em tubo, pela Rádio Saldanha. Comentei Paraná e Internacional, pela Série B, em jogo que estabeleceu o recorde de público da Arena da Baixada. Confesso que é diferente de estar na cabine, dentro do clima do jogo, mas é uma outra forma de ver e contar a história. Esse período frenético teria mais capítulos marcantes, com as fases finais da Copa Paulo Sant’Ana, onde a Rádio Independente fez acompanhamento total dos clássicos entre São José e Cruzeiro, e da final entre São José e Aimoré. Comentei o primeiro clássico Ze-Cruz e reportei nos outros 3 jogos, participando também dos pré e pós-jogos, ao lado do Barbosa Júnior, que me ensinou demais e facilitou muito o desenvolvimento do meu trabalho.

No final das contas, com todas essas experiências em apenas 4 meses de trabalho, são duas coisas que ficam: a gratidão e o aprendizado. Muitas pessoas participaram deste processo, e se eu for listar todos o texto vai dobrar de tamanho, mas ainda menor, infinitamente menor do que tenho a aprender. Afinal, se nem 2017 acabou, o que dizer dessa caminhada? Muitos desafios estão esperando, prontos para serem encarados de frente, com muita dedicação e humildade, elementos fundamentais para chegar a algum lugar. Nosso espaço, enquanto Rádio Independente, nós estamos cavando aos pouquinhos, e 2017 está sendo sensacional neste aspecto. Falando por mim, comentarista/repórter/plantão/radialista Jhon Willian Tedeschi, espero seguir contribuindo de forma satisfatória em todos os espaços que me forem permitidos, sempre em frente.