quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Reaprendendo a sonhar



A primeira semana de outubro, quando formos fazer uma retrospectiva da dupla Gre-Nal em 2016, ficará marcada com a semana da retomada da esperança dos torcedores. Quando as expectativas já eram as piores possíveis, dentro e fora de campo armaram-se reviravoltas que permitiram uma revisão de objetivos. Tudo bem que são prêmios de consolação, longe, muito longe da grandeza de Grêmio e Internacional, mas indicam o começo da salvação de uma temporada que tinha tudo para terminar de forma trágica. Na verdade o risco ainda existe, mas só quem pode respirar aliviado na hora de dormir sabe o valor que isso tem.

Jaílson foi o autor do gol que manteve o Grêmio na briga por uma vaga na próxima Libertadores da América (Foto: Tiago Caldas / Lancepress)
Da briga pela liderança ao meio da tabela. Sem escalas, em um processo rápido e doloroso, que pulveriza os anseios até do mais otimista. O mês de aniversário do Grêmio ficou para trás com apenas uma mísera vitória em cinco jogos pelo Brasileirão, com direito a lambadas inesquecíveis sofridas para Coritiba e Ponte Preta. O comando técnico mudou e a visão sobre o futebol também, com a chegada de Renato Portaluppi, ídolo-mor da história gremista. Esqueçam aquele time acadêmico, que tocava a bola incansável e infinitamente. O “velho-novo Grêmio” busca ser sólido, vertical e reativo, características históricas do clube.

A estreia de Renato foi pela Copa do Brasil, na desnecessariamente dramática classificação gremista sobre o Atlético-PR, quando o time foi derrotado no tempo normal e venceu apenas nos pênaltis. Naquela noite já se notava um Grêmio nem melhor, nem pior, apenas diferente. Na sequência, vitória sobre a Chapecoense, em atuação pobre e eficiente, um pouco mais seguro na defesa, menos dinâmico e mais letal. Ao menos o time voltava a vencer no Brasileirão, deixando para trás uma sequência de 7 jogos sem sentir o gostinho dos 3 pontos. Apresentando visível evolução, o Grêmio superou o Palmeiras no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, fechando setembro com mais uma vitória.

Outubro começou com uma novidade vinda do Paraguai. A Conmebol anunciou que a Libertadores da América passará a ser disputada durante a maior parte do ano, já em 2017, aumentando o número de clubes e de vagas para os brasileiros. Ou seja, da noite para o dia as 4 vagas via Brasileirão se transformavam em 6, e alguns times, que pareciam à passeio no campeonato, voltavam a ter ao menos alguma motivação para terminar o ano de forma mais digna. Entre eles o Grêmio, que se arrastava em uma melancólica espera pelo final do ano, enquanto tentava a sorte na Copa do Brasil, derradeira chance de título ainda nesta temporada.

O começo dessa nova luta foi inglório, em jogo onde o time tinha que jogar pela dignidade, além de jogar pelo resultado, envolto na desconfiança de que entregaria para o Cruzeiro visando a prejudicar o Internacional. A postura foi boa, a atuação foi ruim, e o Grêmio perdeu pelo placar mínimo no Mineirão – onde não vence a Raposa desde 1998. Nesta quarta-feira, mais uma situação do mesmo tipo, desta vez para enfrentar o Vitória, em Salvador. Novamente o time se comportou bem e, apesar de perder um caminhão de gols, saiu vitorioso, se colocando na porta do recém-inaugurado G-6.

Matematicamente falando, hoje são necessários 59 pontos para garantir uma vaga na próxima Libertadores. Está muito longe do que time e torcida ambicionaram em boa parte do campeonato, mas, como costumo dizer, é muito melhor estar na “competição mais charmosa das Américas” do que não estar. O próximo jogo é um confronto direto, contra o Atlético-PR, na Arena, onde vencer é mais que importante, é vital para a manutenção deste objetivo. Volto a dizer, a vaga na Libertadores não era exatamente o que queríamos, mas se é o que podemos, vamos atrás dela.

Danilo Fernandes pega o pênalti de Juan, em momento que poderá se tornar emblemático na história do Internacional (Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional)
Cerca de 70 mil pessoas estiveram no Beira-Rio entre o último sábado e esta quinta-feira. O apoio do povo que veste vermelho era fundamental para que os aparelhos do Internacional seguissem funcionando bem, para deixá-lo respirando no Brasileirão. Todos dentro do clube encararam os jogos contra Figueirense e Coritiba como finais de Copa do Mundo, a torcida fez sua parte e o time voltou a vencer duas partidas seguidas, o que não acontecia a quase 4 meses, quando o Inter recebeu e bateu América e Atlético numa dobradinha de confrontos contra mineiros.

O risco de rebaixamento ainda é eminente, a pontuação colorada é a mesma do Cruzeiro (33 pontos), primeiro clube dentro do Z-4 e que tem um jogo a menos. Falta muito para o torcedor poder comemorar a permanência na Série A, mas a possibilidade disto acontecer passava diretamente por esses últimos 5 dias. Alguns resultados paralelos teimavam em não ajudar, mas finalmente o Inter se ajudou. Podem não ter sido as atuações dos sonhos, mas vencer já faria o sono dos colorados ficar mais tranquilo. Até o próximo sábado, a zona de rebaixamento faz parte do passado.

Dizia após a vitória do Inter sobre o Figueirense que a tônica dos jogos entre clubes ameaçados era a baixa qualidade técnica. Pudera, no nível de tensão em que os clubes na linha entre a 12ª e a 18ª posição estão, qualquer encontro entre eles tende a pegar fogo. O jogo contra o Coritiba não poderia ser diferente. Com mais cara de time do que vinha tendo, a equipe treinada por Celso Roth seguiu esbarrando forte em suas limitações e fazendo muita força para jogar. Os paranaenses, depois de se defenderem o primeiro tempo inteiro, se soltaram na etapa complementar, inclusive ameaçando o gol de Danilo Fernandes.

Um detalhe definiu o jogo: a competência. Na parte final do jogo, Inter e Coritiba tiveram pênaltis a seu favor; Juan parou no goleiro adversário, enquanto Vitinho marcou o gol de mais uma sofrida vitória do Internacional. O Inter venceu as suas duas finais de Mundial, mas não empolgou, tampouco jogou bem. A tabela é bem indigesta até o final do campeonato e este nível de atuação deverá garantir fortes emoções ao torcedor até a última rodada. Com o equilíbrio vigente na parte de baixo da tabela, 44 pontos devem salvar os desesperados. Enquanto isso, aos colorados só resta torcer para que o pesadelo acabe de uma vez.

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