sexta-feira, 4 de maio de 2012

Coruja pelada na altitude

As oitavas-de-final da Copa Libertadores vinham sendo de extremo equilíbrio, até a noite de ontem. No Olímpico Atahualpa, a mais de 3000 metros de altitude, o melhor time da América do Sul, segundo alguns "entendidos", foi deposto desta titulação e, provavelmente, da disputa pelo título da Libertadores. Em uma partida com gramado enlameado, muitas faltas, tarjetas multicoloridas, apagão nos refletores, dentre outros agregadores de dignidade ao jogo, o Deportivo Quito se aproveitou da sua capacidade de adaptação, até por ser o mandante, e goleou, ao natural. Destaques para as grandes atuações de Fidel Martínez, atacante pela esquerda, liso, veloz e driblador, que incomodou Osvaldo González, até que este fosse expulso, e Gustavo Matías Alustiza, agora o artilheiro da competição com 8 gols. Sem contar no grande retrospecto de La Academia jogando em seus domínios, com 4 vitórias em 4 jogos, 14 gols marcados e apenas 1 sofrido.

Os equatorianos começaram o jogo pressionando muito, tentando fazer valer o fator local, tendo como trunfo a altitude a seu favor. Os chilenos tentavam manter a bola nos pés, mas a forte marcação adversária não permitia a tradicional troca de passes, Marcelo Díaz e Aranguiz eram bem marcados e as escapadas com Mena e Rodríguez não eram eficazes como de costume - assim sendo, Junior Fernandes era figura nula no campo. De tanto insistir, aos 29', "El Chavo" Alustiza recebeu ótimo passe na grande área e chutou no alto, indefensável para Jhonny Herrera. Menos de 2' depois, Olivo, que havia recebido cartão amarelo minutos antes, foi expulso em lance de interpretação discutível do mexicano Chacón. Foi a senha para La U se jogar ao ataque de vez, e Carlos Ischia colaborava recuando o time da casa (sacou o avante Bevacqua e colocou o volante Bolaños).

Esta postura foi completamente determinante para o empate chileno, menos de 10' depois de o Deportivo Quito ter aberto o placar. Rara jogada lúcida de Díaz na noite de ontem, lançando Matías Rodríguez, que trouxe a bola para o pé esquerdo (o bom) e fuzilou o veterano Elizaga. O jogo dava toda a pinta de ter virado a favor dos visitantes, mas o que se viu foi um descontrole ofensivo do time da casa, com Martínez e Paredes simplesmente enlouquecendo os defensores rivais. Paredes, inclusive, sofreu um pênalti ignorado pela arbitragem; no meu ver, ele é empurrado na área, só sua queda deveras acintuosa deu a impressão de uma cavada. A medida que o tempo passava, a defesa chilena afrouxava, soltava a corda, até ela cair: Herrera tentou sair jogando, só que Mena aparentemente estava dormindo, e na sequência do lance houve um escanteio. E na sequência do escanteio teve um gol, gol de Luis Checa, o zagueiro-artilheiro do futebol equatoriano. Deportivo Quito novamente na frente.

Na volta do intervalo, Sampaoli, já devidamente expulso, fez 2 trocas, sacando Henríquez e Martínez para as entradas de Lorenzetti e Magalhães. O argentino com nome de marca de chuveiro elétrico, outrora titular, tentou a todo custo ajudar Díaz e Aranguiz, sem o menor indício de sucesso, tanto é que, mesmo jogando com 1 a menos, quem atacavam eram os comandados de Ischia. Em um lapso em que não tivemos as imagens do jogo, "El Chavo" Alustiza marcou mais um, seu 8º gol na competição, e praticamente definia a partida, aos 11' do 2º tempo. 3' depois o zagueiro Osvaldo González, cansado da "alegria y atrevimiento" de Martínez resolveu atorar o ponteiro-esquerdo dos locais, e foi para o olho da rua. Dali em diante, seguiu o desande da maionese de La U, e mesmo que chegasse esporádicamente, como com Junior Fernandes, bloqueado por Elizaga, os chilenos seguiam com um desempenho próximo ao constrangedor.

Após mais alguns 473 dribles en la banda-izquierda do gramado, Fidel Martínez resolveu guardar sua bucha no gol do Bulla. O dublê de Neymar equatoriano pegou a bola próximo a linha divisória do gramado, e arrancou sem nenhuma marcação, invadiu a área e mandou de canhota, inapelável, para decretar o 4-1 no placar do Olímpico Atahualpa, 3º gol do moço na competição. Dali em diante, o jogo seguiu com uma pressão inócua da Universidad de Chile, tentando, ao menos, diminuir o estrago e voltar para Santiago com uma desvantagem menos pesada nas costas. Acredito que, em casa, La U vá jogar futebol, coisa que não fez em Quito, entretanto, o Deportivo está com uma mão e 3 dedos na vaga, apenas um desastroso 3-0 (ou mais!) contra o eliminará da competição, e futebol vai ser o que menos os equatorianos irão querer ver na próxima quinta. Será um jogo muito interessante, tendência de ataque vs defesa. A ver.

Antes do Esquecimento
  • Na quarta, é bom que se faça constar, mais 2 brasileiros deram as caras pelas oitavas-de-final da Libertadores. Em Guayaquil, o Corinthians (na figura do goleiro Cássio) segurou um 0-0 cumpridor contra o Emelec. Gol sofrido no Pacaembu é sinônimo de desastre, mas o time de Tite é muito pragmático, e duvido que isto acontecerá. Já no Rio de Janeiro, Vasco e Lanús fizeram uma partida bem movimentada. Vitória carioca por 2-1, gols de Alecsandro e Diego Souza, com Regueiro diminuindo para o granate. Em La Fortaleza o buraco será bem mais embaixo, e vitória simples dá a vaga aos argentinos. Destaque negativo para Cristóvão Borges, que sacou Felipe e Diego Souza para as entradas de Fellipe Bastos (!) e Carlos Alberto (!!!!). Foi fortemente vaiado, com razão e justiça.
  • Pela Copa do Brasil, na quarta-feira, tivemos mais 3 jogos, fora Fortaleza 0-2 Grêmio. No Moisés Lucarelli, a Ponte Preta bateu o São Paulo por 1-0, gol de Roger (ex-Tricolor Paulista); no Barradão, Vitória e Botafogo empataram em 1-1, gols de Elkeson, para os cariocas, empatando Neto Baiano para o rubro-negro; e na Vila Capanema, Edigar Junio fez o gol da vitória do Atlético/PR sobre o Cruzeiro. Ontem, mais 2 jogos: no Mangueirão, o Paysandu precisava reverter uma desvantagem de 3 gols, mas acabou perdendo novamente, 0-1 para o Coritiba, gol de falta de Tcheco; já na (belíssima) Arena Independência, o Atlético/MG até largou bem, fazendo 2-0 antes dos 30', só que o 2º tempo foi todo do Goiás, que fez o gol de honra, e da classificação, aos 40', com Felipe Amorim. O Coritiba pega o vencedor de Botafogo-Vitória, e o Goiás encara quem passar de São Paulo-Ponte Preta.

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