O Grêmio está imerso em um momento histórico muito denso dos
seus quase 113 anos de existência. Há um processo de adaptação a uma nova casa,
a uma nova realidade que se fez inadiável, já que o velho Olímpico do bairro da
Azenha não suportava mais as necessidades do clube. Há um período sem grandes
conquistas que é angustiante para o torcedor, ainda que o Tricolor, enquanto
instituição, tenha ficado à beira de um precipício sem volta a pouco mais de
uma década – mas vai explicar isso para o torcedor, esse ser visceral que perde
totalmente seu discernimento quando tocam no distintivo do seu clube do
coração. Diante disto, surgem os pequenos tabus, coisas simples e que incomodam
tanto quanto essas questões transicionais mais pesadas.
O Tricolor manda seus jogos em uma moderna arena cravada na
periferia de Porto Alegre a pouco mais de três anos. Confesso minha pouca
afeição ao local, pela minha relação muito próxima ao Monumental de tantas
glórias, mas é necessário encarar a realidade e seguir a vida. Criou-se uma
aura de que o Grêmio e sua torcida ainda não tinham permitido ao novo estádio
que ele tivesse alma, como se um amontoado de concreto pudesse ter vida própria
– sempre acreditei que o Olímpico tinha. Sobretudo nos jogos decisivos, ou
quando uma multidão resolvia ir apoiar o time, esse sentimento se fortalecia,
sobrepunha às barreiras das quatro linhas, e fazia com que os jogadores
travassem ou que houvesse algo em potencial para dar errado.
Muitas vezes deu errado, este blog é testemunha de algumas
dessas ocasiões, mas finalmente ocorreu o aparentemente definitivo exorcismo desse fantasma que
frequentava os becos e praças desertas da Vila Farrapos. No ensolarado e quente
final de manhã deste domingo, o Grêmio recebeu o Corinthians, no primeiro de
três duelos vitais para que o sonho do título brasileiro deste ano não virasse
um pesadelo, e o churrasco do dia dos pais ficou ainda mais saboroso com a
vitória categórica por 3 a 0 contra os atuais campeões nacionais. A Arena
recebeu o maior público de sua curta história em jogos oficiais, pouco mais de
50 mil pessoas, que viram uma atuação correta de um time desfalcado de seus
dois melhores jogadores, mas que soube superar suas limitações e se aproveitar
das fraquezas corintianas.
Foi um jogo sem redenções épicas, nem grandes histórias para
contar. O Grêmio tomou a iniciativa do jogo, empurrado pela multidão que foi
lhe apoiar, e sufocou o Corinthians até abrir o placar, em um golaço de Pedro
Rocha. O time paulista teve enormes dificuldades na contenção do jogo, estando
organizado em um 4-1-4-1 que não tinha compactação, muito menos a necessária
voluntariedade dos jogadores da terceira linha nos raros momentos sem a posse
da bola, situação personificada no paraguaio Romero, de péssima atuação. Muitas vezes os
donos da casa alugaram o campo para os visitantes, atraindo as linhas rivais
para o seu campo, visando ao contra-ataque. Deu certo, o Grêmio desarmou muito
mais, utilizou com alta eficiência a velocidade de Pedro Rocha, Everton e Bolaños, e
matou o jogo no início da etapa complementar.
Duas coisas são importantes ressaltar. Em primeiro lugar,
novamente a defesa gremista protagonizou momentos de horror na bola aérea,
sempre nos 15’ finais de cada tempo. Não fosse a péssima pontaria dos homens de
frente do Corinthians, a atuação iluminada de Marcelo Grohe e uma boa dose de
sorte, o resultado poderia ter sido totalmente diferente. O posicionamento da
zaga tricolor ainda vai me fazer voltar a ter medo de altura, que troço
impressionante. Outra coisa... Sigo com minhas restrições ao técnico Roger
Machado, sua visão de jogo (a falta dela, no caso) e as limitações para alterar
o panorama de um jogo complicado. Mas, hoje, pelo menos, nosso treinador não
atrapalhou, mexeu certinho, colocando as peças certas, nos momentos certos.
Tudo bem que as circunstâncias ajudaram, mas a dupla Kaio e Ramiro não ficou
devendo em nada para Jaílson e Maicon, além da entrada de Guilherme, não tão
bem como outrora, mas em nível aceitável.
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