quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Arejando o cabaré

Drama. Sangue. Suor. Lágrimas. Risadas! É, risadas. Esqueça o que veio antes disto, a partida entre Flamengo e Real Potosí não pode ser definida de outra forma, a não ser como uma comédia do estilo pastelão. Para quem assistiu o jogo sem segundas intenções, como este blogueiro, foram 90 e tantos minutos de algumas risadas, e um divertimento bem leve. Porque, na verdade, até os torcedores rubro-negros deviam ter motivos para rir durante a partida - ainda mais depois dela, que garantiu o Mengão na 2ª fase da Copa Libertadores, no mesmo grupo de Olimpia/PAR, Lanús/ARG e Emelec/EQU, um grupo bastante encardido, mas nada de surreal. Dá para passar, é só as coisas voltarem ao seu devido controle, principalmente acertando as questões do comando, ou da falta dele.

O Flamengo entrou no gramado do Engenhão sob óbvia pressão: havia perdido o primeiro jogo nos garrões de Deus por 2-1, as brigas entre Ronaldinho e Luxemburgo estavam cada vez mais constantes, reforços não chegavam, enfim, nada jogava a favor do time carioca. O estádio recebia um bom público, que não parecia disposto a atrapalhar um caminho por si só complicado, então, o apoio foi constante antes do jogo, com jogadores tendo seus nomes gritados, e todo aquele "auê" que costumamos ver no Rio de Janeiro. O Potosí, que entrou uns 10 minutos antes do Flamengo no gramado, estava ali como franco-atirador, na condição de um time que nunca havia pisado no Brasil sem ter saído com no mínimo 5 gols na bagagem (pelo menos até onde minha memória me permite lembrar).

Na saída de bola percebia-se que o time boliviano não tinha vindo ao Brasil para brincar: armou-se em uma retranca, que mais parecia uma barreira de coca, que deixaria Evo Morales orgulhoso. Deixaria, pois o sistema defensivo, quando de posse da bola, fazia aparecer suas impressionantes limitações, errando passes curtos, e tropeçando na bola na tentativa de driblar (!) os avantes rubro-negros. A frouxura do time de Luxemburgo que não permitiu grande pressão no início, e, mesmo assim, o goleiro Lapczyk se destacava como melhor jogador boliviano em campo. O time violeta mal conseguia sair para o jogo, armando-se em um 4-4-1-1, recuado, e que tinha como desafogo o... o... o muy digno "bumba-meu-boi", acreditando piamente que o centroavante Brittes fosse reter a bola, e armar para... para... para alguém perdido que viesse de trás. Realmente, a vida do Potosí estava difícil.

De tanto insistir, aos 39' a casa caiu. Ou melhor, o Flamengo abriu as porteiras da favela boliviana, com um gol do lateral Léo Moura, aproveitando cobrança de falta lateral de Ronaldinho Gaúcho. Antes disto, Bottinelli, destaque da pré-temporada flamenga, já havia aparecido 2 vezes, assustando o arqueiro visitante. Ali acima dizia das deficiências da defesa do Potosí, porém um jogador em especial, parecia estar trajando vermelho e preto por baixo da camisa arroxeada; Centurión, que deveria ser o líder da defesa, era o comandante dos episódios de "fogo amigo" proporcionados pela retaguarda potoseña. No 2º tempo, o beque atoraria Léo Moura, assim como havia feito com Bottinelli, e foi assistir aos minutos finais no requinte e modernidade dos vestiários do João Havelange.

Por falar na 2ª etapa, foram 45' de muitas emoções. Claro, pois quando você acha algo engraçado, não deixa de ser uma emoção, e eu soube conviver bem com isto; mas o time do Real Potosí, não. Então eles resolveram começar a gostar do jogo, depois de um princípio onde percebia-se que o Flamengo não ameaçaria muito o arco de Lapczyk. Uns chutes de muito longe, alguns deles passando perto do gol, e só. O time violeta passou a trocar passes, sem muita naturalidade, como era de se esperar, e chegava como no futebol americano, cavando jardas. Ao ponto de ter uma "bola do jogo", com Brittes, que recebeu ótimo cruzamento da direita, e cabeceou à esquerda de Felipe - ali seria a implosão natural do Engenhão. As entradas dos garotos Muralha e Camacho devolveram as rédeas do jogo aos mandantes, fato sustentado pela supracitada expulsão boliviana.

Ao final da partida, em uma roubada de bola no campo de ataque, Ronaldinho recebeu na entrada da área, gingou, driblou o zagueiro e rolou no cantinho esquerdo do goleiro do Potosí. Um golaço, unindo habilidade e tranquilidade, e matando o time boliviano, que ainda espernearia um pouco mais em volta da área do Flamengo, mas não teve seu doce da vantagem devolvido. 2 a 0, pelo 2º tempo um resultado mais justo, pois se fossem 2 etapas como a 1ª, 6 ou 7 a 0 ficaria extremamente barato. Acredito que o Flamengo, se utilizar bem essa gurizada à disposição, pode dar certo trabalho, até pegar algum brasileiro no caminho. Dificilmente ficará na 2ª fase, os adversários são tarimbados, entretanto, igual ou menos qualificados que o time de Luxemburgo, só que o jogo de hoje (ontem) deve servir como um aprendizado - não menosprezar adversários mais fracos, há que tentar patrolar todos. Pelo menos a vitória tende a deixar o ambiente na Gávea menos tenso. Nem que sejam nas aparências.

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