sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ideologias organizadas

O mundo ficou de queixo caído com as cenas de horror protagonizadas na última semana por torcedores do Al-Masry e do Al-Ahly, do Egito. 74 mortos, mais de 1000 feridos, e a certeza de que as coisas no futebol egípcio jamais serão como antes. Entretanto, recorre em um erro ao pensar que o massacre tratou-se de uma questão puramente ligada à rivalidade futebolística. No final do ano passado, completou-se 1 ano da passagem da Primavera Árabe, a famosa série de manifestações populares que tomou conta de países árabes e não-árabes, derrubando ditaduras em países como a Tunísia, o Egito e a Líbia, além dos demais protestos ocorridos na Jordânia, no Iraque, na Síria, entre outros. Os leitores podem perguntar o que isto tem a ver com o futebol, e um link se faz muito necessário, até como matéria explicativa: a utilização de redes sociais foi de suma importância na organização dos manifestos, e, não apenas nos países árabes, mas no mundo inteiro, a atuação de torcidas organizadas (e assemelhados) nas redes sociais é fortíssima. No momento em que uma torcida cria uma personalidade politizada, ela deixa de ser apenas um elemento de apoio nas arquibancadas para se tornar um nicho da política de determinado lugar.

Os Ultras, tipo de torcida bastante popular na Europa, e em alguns países da Ásia e norte da África, em muitos casos, o que veremos mais adiante, assumiram este papel, e se caracterizam por sua postura em relação as condições político-sociais de sua nação, e até mesmo de outros lugares, tendo em vista o mundo extremamente globalizado no qual estamos inseridos. Pois bem, os Ultras do Al-Ahly participaram ativamente das manifestações no Egito, no início do ano passado, as quais forçaram a renúncia do ex-presidente e ditador Hosni Mubarak, e, desde então, eles estão posicionados contra qualquer ação que remeta ao governo anterior, principalmente se considerarmos que a junta militar que hoje governa o Egito tem ligações muito estreitas com o antigo governante. Seguidamente nas partidas do Ahly são vistas faixas e ouvidos gritos de guerra indicando o descontentamento do grupo com a atual situação do país, e na partida contra o Masry não foi diferente. O que diferenciou foi a reação dos "torcedores" do Masry, que, com o aval da polícia local, não teve dificuldades para invadir o setor onde se localizavam os visitantes. Coloco entre aspas, pois não é correto afirmar que foram realmente torcedores do Masry que fizeram isto, já que existe a suspeita de infiltração de grupo pré-Mubarak entre a multidão de simpatizantes do clube de Port Said.

Esta "inserção política" no futebol egípcio me motivou a uma breve pesquisa, na qual identifiquei um site (ótimo, por sinal), que fez uma análise sobre o assunto. Então, ao invés de me apropriar de informações alheias para formar uma tese, vou linkar o texto aqui no "Vida Cancheira", até para que todos possamos ter argumentos, embasamento e margem para buscar mais informações e discutir sobre o assunto sem correr o risco de cair no senso comum de que o ocorrido no Egito foi apenas questão de rivalidade futebolística.

Especial Futebol (I): Torcidas Organizadas e orientação política, do Passa Palavra.

Além dos casos citados na matéria acima, vou um pouco adiante, ultrapassando as questões políticas. Sou um fã declarado do futebol e do rock'n'roll argentino, e um curioso acerca da história de ambos; mal sabia eu, no início de minhas leituras, que a música e o comportamento das torcidas tinham muito a ver no país de nossos hermanos. As crises econômicas vividas pela Argentina entre os anos 80 e 2000 afloraram nos roqueiros locais sua indignação com o contexto da nação, que foi transformada em letra e melodia, destacando a pobreza, a desigualdade, entre outros fatores em destaque à época. As barra-bravas, identificadas com isto, e compostas basicamente por jovens das classes mais baixas da sociedade portenha, passaram a massificar o consumo deste gênero musical e a se inspirarem nele para criarem suas canções levadas às arquibancadas. O artigo da Wikipédia que fala sobre o rock barrial na Argentina explica com maior riqueza de detalhes, e com mais fontes disponíveis (e confiáveis) para profundamento no assunto. O que podemos tirar de lição, é que não são apenas questões esportivas que diferenciam grupos torcedores de determinados clubes de futebol (isto que este é um blog que trata apenas de futebol; esportes como o basquete são extensões da matéria), que nem só questões de rivalidade purista são causadoras de conflitos. O futebol, dentre outras coisas, é um grande catalizador do ambiente que o rodeia.

3 comentários:

  1. Parabéns Jhon pelo trabalho que fizeste com a cronica acima.

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  2. Meus cumprimentos. Muito bem feito esse teu trabalho sobre o incidente no Egito. Já estou falando a horas tu e o Carlos tem é que ir pra uma RBS da vida ontem! Essa matéria foi muito bem montada.
    E também ressalto a humildade do Carlos em reconhecer tal trabalho e também gosto dos textos dele. (menina do segundo grau e tals)
    Vcs formam uma baita dupla!
    Parabéns a ambos.

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  3. Muito bom o texto. Teve fonte e tudo mais.
    Olha como disse o Carlos e o Willian está de parabéns!
    E olha leio muito blogs de gente que nõa é da imprensa mas o de vcs é o melhor disparado.

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