domingo, 29 de abril de 2012

Sarna pra se coçar

Para começo de conversa, parabenizo o Sport Club Internacional pela conquista do seu 41º título de Campeonato Gaúcho. Vão pregar respeito e os cambau para com o Caxias, mas, não tem jeito, somente uma tragédia, um cataclisma tira mais esta taça da sala de troféus da Padre Cacique. O direito a receber as faixas do maior clube da terra da Festa da Uva (!) foi adquirido na tarde de hoje, com a vitória no Gre-Nal 392, disputado no Beira-Rio. No meu ver, serão 2 jogos para cumprir o regulamento, pois, do jeito que os grenás estão, nem precisariam entrar em campo. Não sei se espero que eles calem minha boca, para mim não fará a menor diferença. Seja como for, o Inter, vencedor da Taça Farroupilha, chega com méritos, e, graças a melhor campanha no geral, reitera o favoritismo atribuido a ele na grande final.

Meu foco é o lado azul*, lado derrotado. Assisti ao jogo na companhia do amigo e colega blogueiro Lucas Estega, do Futebol Além dos Gramados, e, chegamos a um consenso; o jogo foi ruim, e teríamos chegado à mesma conclusão se o Tricolor tivesse vencido nas mesmas condições. Luxemburgo fez um mistério que, para mim, foi genial, mas no contexto da partida foi desnecessário - a escalação do time foi divulgada apenas quando os 18 relacionados estavam no gramado do Beira-Rio. A ideia era não mexer muito na estrutura do time, consolidado no 4-3-1-2, entretanto o treinador "inovou" (poderia dizer que inventou) botando o time em um 4-3-3 desproposital, sobretudo porque quem tinha que atacar e propor o jogo era o Internacional, até por ser o mandante. O mistério foi tanto, que o telão/sistema de som do estádio chegou a anunciar a escalação com Júlio César na lateral-esquerda; este, provavelmente, estivesse em casa assistindo ao jogo, e recuperando-se de lesão muscular. Sensacional.

No fim das contas, Miralles entrou na vaga de Léo Gago, se juntando a Bertoglio e André Lima no ataque. Marco Antônio recompôs a meia-cancha pela esquerda, fazendo praticamente uma linha com Fernando e Souza. Muitos podem dizer que Bertoglio poderia ter jogado no meio, mas na 1ª etapa ele ficou trocando de posicionamento com Miralles, cada um em uma ponta. A intenção foi excelente, só que esqueceram de avisar ao camisa 18 que o jogo tinha certa importância, e que ele precisaria jogar. É, não jogou. Absolutamente nada, como de costume. A escalação inicial deve ter causado orgasmos nas chinas de fronteira da torcida do Grêmio, que não podem ouvir um jogador "hablar castellano" que já se abrem, só que não deu em nada; o time perdeu totalmente a consistência no meio-campo, sem contar que a excelente marcação do Inter impossibilitou movimentos ofensivos com algum resquício de criatividade. Na 1ª etapa, o time não deu nenhum chute a gol. Nada. Produção estéril.

Não obstante, a zaga voltou a fazer água frente a um ataque mais qualificado. Werley e Gilberto Silva já haviam se visto em apuros contra Leandro Damião e Jajá, mas o Colorado pecava no último passe. E justamente o jogador ofensivo com a pior produção no time vermelho foi o responsável por abrir o marcador. Depois de um contra-ataque, a bola pipocou na área gremista, Gabriel tentou afastar, mas deu um belíssimo passe de calcanhar para Jesús Dátolo bater de perna direita, sem chances para Victor. Eram aproximadamente uns 35', não tomei notas ao acompanhar a partida. Talvez o resultado mais justo fosse o empate, só que quando apenas um dos times finaliza, este não fez mais que sua obrigação, e a vantagem no placar é consequência. Enquanto isto, Bertoglio apenas sofria faltas, e André Lima e Miralles apanhavam da bola, completamente agoniados por não serem abastecidos. Houve uma jogada em que André foi buscar jogo na ponta-esquerda, e tentou abrir espaço a dribles. Óbvio que não rolou. Constrangedor.

O intervalo mostrou mais uma vez porque o Grêmio acertou na escolha do treinador, e porque o Inter sofre com o seu. Luxemburgo percebeu que de boas intenções o inferno está cheio, e sacou Miralles do time, ingressando Marquinhos, e também trocou André Lima por Marcelo Moreno - aqui já adianto, fora uma cabeçada fraca do boliviano, foi uma troca de 6 por 1/2 dúzia. Marquinhos foi fazer a função cumprida por Marco Antônio nos primeiros 45', e este foi ser o "1" do esquema, digamos, ideal. O jogo seguiu sem nada muito digno de nota, com o Inter recuando um pouco, até que em uma trapalhada de Rodrigo Moledo (o melhor em campo, na minha opinião - só errou naquela jogada), o zagueiro precisou cometer falta em Moreno. Dátolo pagou geral, e parecia pressentir o pior, que de fato aconteceu: Fernando, de excelente atuação, cobrou a falta no poste, e, no rebote, Werley completou. Empate e catarse coletiva dos 2 mil gremistas presentes no estádio porto-alegrense na Copa '14.

O Inter pareceu sentir o gol, mas foram apenas 5' onde o Grêmio pareceu querer para si o controle da partida. Até que aconteceu o lance mais peculiar do campeonato - mais até que a mordida do cão da BM no atacante do Caxias; Jajá mandou uma porrada da intermediária, e exigiu uma ótima defesa de Victor. Tudo certo, só que na cobrança do escanteio, o gandula repôs rapidamente para o cruzamento de Dátolo e Vanderlei Luxemburgo saiu à caça do rapaz, e causou um reboliço sem razão, pois o lance não levaria perigo algum ao gol gremista. Momentos de briga, ameaças, gritedo, e depois de dizer algumas verdades para Márcio Chagas da Silva e para o 4º árbitro, Luxemburgo foi para o chuveiro mais cedo (?). Paulo Paixão e André Lima, ambos também envolvidos no rolo, ficaram no comando técnico da equipe, sobretudo o centroavante, que trocava informações por celular com o treinador, além de orientar Leandro, quando este foi a campo. Parece claro que, por conta disto, o garoto nada fez - entrou na vaga de Bertoglio.

De tanto brigar por escanteio, o gol da vitória do Inter não poderia sair de outra maneira. Faltando cerca de 10' para o final da partida, Jajá cobrou escanteio da direita, e Fabrício apareceu como centroavante, completamente desmarcado, para acabar com a trajetória do Grêmio no Gauchão 2012. Diga-se de passagem, voltando na casinha do sistema defensivo, que foi muito mal, o Inter ganhou quase todas pelo alto. Muitos fatores para "chamar" o gol vermelho que definiu tudo. No fim das contas, pela atuação fraca do Grêmio, e maior eficiência do Inter, se fez justiça no placar. Além da já destacada atuação de Rodrigo Moledo, o Inter teve em Tinga mais um expoente, ainda que, por vezes, quisesse apitar o clássico. Do lado gremista, Fernando e Pará (!) foram bem, mas as péssimas atuações de Gabriel e Marco Antônio foram comprometedoras, para ser bonzinho.

Agora, para o Grêmio, tudo é Copa do Brasil, e vejo isto como um fato positivo, naquela velha mania de querer ver algo bom nas derrotas. Jogos apenas nos meios de semana até o Brasileirão, e tranquilidade para enfrentar o Fortaleza, pelas oitavas-de-final da Copa. O confronto começa na próxima quinta-feira, às 21h50, no Presidente Vargas - viagem longa, torcida adversária ensandecida, e um time que vai correr e pegar muito. Nada melhor que priorizar isto, sem ter uma pressão maior com outra decisão concomitante. A derrota no Gre-Nal não foi tão comprometedora, não tem potencial devastador (xô, terra arrasada!), e na terça-feira ninguém mais lembrará de nada. O Tricolor viajará completo, podendo já contar com Mário Fernandes, e a medida que as etapas vão sendo cumpridas, o time vai encorpando em busca do penta-campeonato da 2ª competição nacional mais importante.

* "do lado azul", porque espero que o colega Carlos Paiva poste uma visão colorada sobre o clássico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário